Felicity e Kevin: encarando o passado.
Felicity Huffman entrou para a história do Oscar como uma das maiores injustiçadas ao perder o prêmio de melhor atriz para Reese Witherspoon (Johny & June/2005). O fato é que embora Reese estivesse convincente como a esposa de Johnny Cash, a atuação de Felicity era infinitamente mais interessante na pele da transexual Bree (que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor atriz dramática). Felicity faz um trabalho magnífico que transcende a caracterização da personagem, seu trabalho com a voz e com o corpo realmente convence de que estamos diante de um homem que almeja se tornar uma mulher. Sua maquiagem, seus gestos, seu caminhar, suas roupas, tudo transpira um desconforto diante do corpo que possui. Prestes a fazer a cirurgia para mudar de sexo, Bree recebe uma ligação dizendo que seu filho adolescente foi preso, mas ela não dá muita atenção - ao contrário da terapeuta que acompanha sua jornada, que recomenda que ela resolva o problema com o filho antes da cirurgia. A contragosto, Bree procura o rapaz, mas não tem coragem de revelar quem é relamente, fazendo com que Toby (Kevin Zegers em ótima atuação) acredite que é uma missionária capaz de colocá-lo novamente nos eixos. Toby foi fruto de uma experiência sexual de Bree com uma amiga, mas desde então as vidas seguiram rumos diferentes, deixando Toby sob os cuidados de um padrasto. A convivência entre Toby e Bree, assim como todo o filme, caminha num raro equilíbrio entre o dramático e o cômico e converge para que a verdade venha à tona na inevitável catarse que se anuncia. O diretor Duncan Tucker acerta em cheio ao não criar um drama familiar melodramático e lacrimoso, trata principalmente da protagonista se deparando com sua própria história antes que sua almejada transformação física se concretize. Durante o filme acontecem várias situações e encontros que revelam um pouco mais sobre Bree e seu filho, especialmente as semelhanças que existem entre os dois (ainda que nas fantasias de Toby ele nem imagine que seu pai seja um transexual). A prova de fogo virá com o reencontro de Bree com a família que não o reencontrava há tempos, em que a mãe (Fionnula Flanagan) é a que mais demonstra sua rejeição à situação do filho, gerando algumas situações que só uma mãe é capaz de tornar ainda mais ofensiva, condensando ainda mais a incompreensão diante da transexualidade. Se Bree começa frágil e insegura, ao final do filme ela está visivelmente mais forte e, ainda que as lágrimas sejam inevitáveis, elas surgem por conta de outros motivos. Felicity Huffman honra um papel difícil numa escalação que poderia ser polêmica, mas ela demonstra a alma feminina, de uma mulher que nasceu num corpo de homem, de forma inesquecível.
Transamérica (EUA/2005) de Duncan Tucker com Felicity Huffman, Kevin Zeggers, Fionnula Flanagan, Burt Young, Carrie Preston e Graham Greene. ☻☻☻☻☻
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