Dano, Keitel e Caine: irmão mais novo de A Grande Beleza.
Os filmes de Paolo Sorrentino precisam de uma espécie de preparo especial por parte do espectador, afinal, o diretor tem uma linguagem única de traduzir suas ideias em imagens. Sei que parece um tanto pretensioso dizer isso, mas não é o tipo de filme que você assiste apenas para passar o tempo. Quem espera uma trama com começo, meio e fim, intrigas, grandes suspenses ou dramas superlativos se decepciona. Seus filmes geralmente seguem um personagem, dando-se ao luxo de seguir alguns coadjuvantes em poucos momentos que ajudam a compor um universo bastante particular. As imagens tem uma plasticidade absurda e as locações geralmente são belíssimas - além da narrativa ser auxiliada por uma edição tão sugestiva, que compõe uma verdadeira sinfonia de imagens. O auge da admiração pelo estilo do diretor italiano veio com A Grande Beleza (2013), onde ele homenageava a obra do mestre Federico Fellini, especialmente A Doce Vida (1960). Seu passo seguinte dividiu opiniões - mas seus fãs não tem do que reclamar. Embora Juventude não tenha a mesma energia do anterior, os dois possuem muitas semelhanças: se A Grande Beleza girava em torno de um jornalista que aproveitava o que Roma tinha de melhor (e um pouquinho do pior), Juventude se concentra no maestro Fred Ballinger (Michael Caine) que tirou alguns dias para descansar num exuberante hotel nos alpes suíços - que é o destino dos famosos que precisam viver uma espécie de retiro. Ballinger conta com a companhia de um amigo de longa data, o cineasta Mick Boyle (Harvey Keitel) - que é o sogro da filha de Ballinger, Lena (Rachel Weisz). Em meio aos dias de descanso, Fred é convidado para conduzir a Orquestra da BBC na execução de sua celebrada canção Simple Song #3 à pedido da Rainha Elizabeth II. O que poderia ser o auge da carreira de qualquer compositor, torna-se um verdadeiro transtorno na vida do maestro - que rejeita o convite, embora a Rainha persista ao longo de todo o filme. O convite é o fio condutor da história, mas a história agrega vários outros elementos como a elaboração do novo filme de Boyle, a crise no casamento de Lena, a presença de uma Miss Universo no hotel, um ator reconhecido por um papel que detesta (vivido por Paul Dano), Maradona (!!?) e até um homem que é capaz de levitar. Sorrentino faz uma colagem sobre situações envolvendo esses personagens, cria cenas poéticas, bem-humoradas, dramáticas e até surreais (a cena do coral de vacas é a minha favorita). Porém, mais interessante do que a própria história é o tratamento generoso utilizado por Sorrentino para acompanhar seus personagens - motivo pelo qual a participação dissonante de Jane Fonda causou tanto rebuliço, sendo até indicada ao Globo de Ouro de atriz coadjuvante (e cotada para o Oscar tendo menos de dez minutos em cena) sua presença promove um verdadeiro choque na atmosfera construída pelo diretor. Dizem que Juventude é uma homenagem do diretor para outra obra felliniana, Oito e Meio (1963), a ideia inicial poderia até ser essa, mas Juventude parece mesmo um irmão de A Grande Beleza (e o próprio Ballinger lembra Jep Gambardella com seu óculos de armação grossa e cabelo penteado para trás), sendo que Juventude é carrega mais melancolia sob o temor de seus personagens diante de tornar-se descartável (seja como obra, artista, amigo, pessoa...). Juventude me faz lembrar quando as pessoas dizem "no meu tempo" como se o tempo dela já estivesse para trás. Sorrentino mostra que não é bem assim (ainda bem).
A Juventude (Youth / Itália, França, Reino Unido e Suíça - 2015) de Paolo Sorrentino com Michael Caine, Harvey Keitel, Rachel Weisz, Paul Dano, Jane Fonda, Roly Serrano e Madalina Diana Ghenea. ☻☻☻☻
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