Jesse e Devin: nada é o que parece ser.
Para além de todos os predicados que o terceiro filme do dinamarquês Joachim Trier possa ter, trata-se do primeiro filme de uma promissora carreira internacional. Contando com atores conhecidos, Mais Forte que Bombas (o nome original: Louder Than Bombs é o mesmo título de uma coletânea lançada em 1987 da banda The Smiths, mas não consegui perceber elos de ligação) é o tipo de filme que você assiste e ecoa em sua cabeça por vários dias. A história parte de uma premissa simples: uma família que ainda tenta superar a morte da matriarca. Isabelle (a sempre econômica Isabelle Hupert) era uma renomada fotógrafa que esteve presente em vários locais conflito. Após ver e registrar o que a humanidade pode provocar de mais perigoso ela se aposentou e faleceu num acidente próximo de carro quando ia para a casa. O tempo passou, seu filho mais velho, Jonah (Jesse Eisenberg) casou e acaba de ter o primeiro filho e o filho mais novo, Conrad (o promissor Devin Druid) mostra-se cada vez mais introspectivo - comprometendo seu relacionamento com o pai (Gabriel Byrne). Se todos aparentam já saber lidar com a morte de Isabelle, a organiação de uma mostra sobre o trabalho da fotógrafa obriga a família a revirar lembranças e sentimentos. Deste ponto de partida, Trier apresenta seus personagens para aos poucos desconstruir qualquer impressão que possamos ter no primeiro instante que os conhecemos. Assim, se o pai é sempre atencioso, aos poucos percebemos o quanto ele pode ser sufocante junto ao filho caçula, que por sua vez pode parecer estanho no início, mas que aos poucos revela uma identidade bem mais interessante do que julgávamos. Por outro lado, se Jonah era quem parecia ter lidado melhor com a perda da mãe, aos poucos, suas mentiras evidenciam que alguns problemas precisam ser encarados em seu processo de amadurecimento. Não satisfeito em descascar seus personagens diante da câmera, o cineasta utiliza vários artifícios para mostrar ao espectador que tudo o que possuem diante de si é um conjunto de impressões que parece revelar uma coisa, quando na verdade, evidencia outra. Ele utiliza esse recurso várias vezes, apresentando determinada cena sobre a ótica de um personagem para depois reapresentar sob o olhar de outro, ora cria versões sobre o acidente para depois uma incômoda suspeita pairar sobre Jonah e o pai. Mais Forte que Bombas explora os laços familiares diante de uma tragédia familiar e compõe uma espécie de filme de fantasma que funciona pela criatividade narrativa de seu diretor em contrapor as visões que temos da realidade e dos outros. Indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme teve que se contentar apenas com elogios - além de uma longa espera para estrear nos cinemas americanos... sorte que já estreou por aqui!
Mais Forte que Bombas (Louder Than Bombs / Noruega, França, Dinamarca, EUA / 2015) de Joachim Trier com Jesse Eisenberg, Gabriel Byrne, Devin Druid, Isabelle Huppert, Amy Ryan, Ruby Jerins e David Strathairn. ☻☻☻☻☻
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