Jack e seus amigos: nó na garganta.
Um Estranho no Ninho entrou para a história como o segundo filme a ganhar as cinco principais categorias do Oscar (o primeiro que conseguiu a proeza foi Aconteceu Naquela Noite/1934 de Frank Capra e o terceiro foi O Silêncio dos Inocentes/1991 de Jonathan Demme) . Se levarmos em conta que o filme é ambientado em um sanatório e foi lançado em 1976, trata-se de um grande feito. O filme foi indicado a nove estatuetas e levou para casa a nata da premiação: melhor filme, melhor diretor (Milos Forman), melhor ator (Jack Nicholson), melhor atriz (Louise Fletcher) e roteiro adaptado (da peça de Dale Wasserman). O filme também foi o segundo longa em inglês do diretor tcheco Milos Forman, que se tornou um ícone para a nova forma de fazer filmes que Hollywood perseguia, com menos glamour e mais realismo. O filme conta a história de R.P. McMurphy (Jack Nicholson), um homem que chega a um centro de tratamento psiquiátrico com um histórico complicado. Após se envolver em brigas e ter estuprado uma garota de quinze anos, ele visivelmente chega aquele lugar imaginando que seria uma forma de escapar da prisão, afinal, logo se percebe que louco ele não é. No entanto, por mais que ele comece a ter um bom relacionamento com os outros pacientes do local, o seu maior problema é a enfermeira responsável pelo local: a enfermeira Ratched (Louise Fletcher). Por boa parte do filme, a trama gira em torno do novo paciente tentando mudar a forma como os pacientes são tratados naquele lugar desagradável. A televisão vive desligada (e a vontade de ver um jogo de baseball já rende discussões e situações de abuso de poder), não existe atividade física para os pacientes e a própria terapia de grupo é conduzida com uma serenidade cruel por Ratched. Embora o filme seja habitado por vários atores que ganhariam fama nos anos seguintes (Danny DeVito, Christopher Lloyd e Brad Douriff), a alma do filme está no embate entre Nicholson e Fletcher. Nicholson já tinha quatro indicações ao Oscar antes de levar sua primeira estatueta por este filme. Seu estilo expansivo e charme subversivo já haviam tornado o ator famoso, torna-se visível como ele se diverte em cena - e cria um contraste poderoso quando a situação de seu personagem se torna mais densa naquele lugar. Já Louise Fletcher segue um caminho oposto, sua personagem é aparentemente a calmaria em pessoa, mas aos poucos podemos ver o ódio consumi-la por dentro, alterando seu semblante, seu olhar, provocando leves contrações em seu rosto num auto-controle que está sempre prestes a explodir. A atriz que já era conhecida por seus trabalhos na televisão nunca mais conseguiu um papel tão interessante que lhe rendesse uma atuação tão magnífica quanto a que vemos aqui. O embate por saber quem é o dono do pedaço é o que confere ao filme uma estrutura narrativa poderosa, especialmente quando chega ao final e nos oferece um nó na garganta. Milos Forman se destaca por pegar uma história pesada e lhe dar toques cômicos num raro equilíbrio com o que pode haver de mais trágico na repressão de comportamentos dissonantes. Um Estranho no Ninho é um filme ambientado em praticamente um cenário, sem truques narrativos, mas consegue ir da calmaria ao caos como um raio amparado por um roteiro belamente lapidado. Enfim, um clássico de respeito.
Um Estranho no Ninho (One Flew over the Cukoo's Nest/EUA-1975) de Milos Forman com Jack Nicholson, Louise Fletcher, Christopher Lloyd, Danny DeVito e Brad Douriff. ☻☻☻☻☻
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