Toni e a esposa: tensas relações.
Toni (Adel Karam) é um cristão libanês que vive com sua esposa grávida (Rita Hayek) vivem em seu apartamento em uma cidade que não gostam muito. Ainda assim, a vida do casal segue com tranquilidade, até que um dia ao molhar as plantas em sua varanda, Toni molha acidentalmente Yasser Salameh (Kamel El Basha), encarregado de um grupo de profissionais de urbanização que trabalham por ali. Abordado por Yasser sobre o incidente e a irregularidade de sua calha, Toni não é muito gentil e recebe um palavrão como resposta. A partir daí começa o embate entre os dois personagens, que vão de um insulto para agressão física, um processo nos tribunais, manifestações, agressões, ofensas e um verdadeiro caos na cidade onde vivem. Aos poucos o filme explora a tensão entre os dois personagens como um reflexo das relações naquela região. O Insulto foi indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro deste ano e se a disputa não fosse tão acirrada, possivelmente teria sido premiado. Existe algo no filme que faz lembrar o cinema do iraniano Asghar Farhadi (que já foi premiado duas vezes nesta categoria, com os ótimos A Separação/2011 e O Apartamento/2016, já que aqui também existe um incidente doméstico que acarreta uma série de situações que se expandem e apresentam uma sociedade que parece uma panela de pressão prestes a explodir (e o que era um drama se torna um suspense sufocante). Justamente por passar de uma situação simples para uma verdadeira guerra, onde preconceitos e interesses políticos se misturam, que o filme ganha força e surpreende. O diretor Ziad Doueiri tem habilidade em conduzir sua história numa tensão crescente, com diálogos que geram reflexões na plateia, mesmo que por vezes pese a mão na condução quase unidimensional de alguns personagens. Aos poucos a trajetória daqueles personagens revela a história daquele lugar e, seja de um lado ou do outro, todo mundo tem suas contas a acertar com o passado, mas o diálogo se torna cada vez mais difícil com dois grupos tão certos de suas convicções. Enquanto Toni segue afirmando que tudo o que queria era um pedido de desculpas (o que está longe de ser verdade), também conseguimos compreender as reações de Yasser ao se sentir ofendido com a postura de seu antagonista. O embate entre os dois já renderia um filme interessante, mas o diretor insere outros elementos que colaboram para que o filme amplie seu apelo, seja a esposa grávida que tenta colocar um pouco de sensatez na mente do seu esposo ou o patrão que se vê numa verdadeira encruzilhada quando seu próprio emprego começa a ser afetado pelo caso. Porém, algumas “surpresas” da trama soam um tanto forçadas, como o relacionamento entre os advogados responsáveis pela defesa e acusação ou a forma melodramática como é apresentada a história de vida de Toni, são situações que destoam do resto da trama e não são desenvolvidas com a mesma desenvoltura do resto da história. Sorte que ainda assim, O Insulto é contundente, com suas imagens e diálogos ásperos que, de quebra, representam bem o quanto os discursos de ódio são perigosos em qualquer lugar.
O Insulto (L'Insulte / França - Síria - Líbano - Bélgica - EUA / 2017) de Ziad Doueiri com Adel Karam, Rita Hayek, Kamel El Basha, Camille Salameh, Christine Choueiri, Julia Kassar e Talal Jurdi. ☻☻☻☻
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