Love, Woody e Brett: vida e obra de um pornógrafo
Lawrence Claxton Flynt Jr. nasceu no estado americano de Kentucky em 1942 e ninguém imaginava que aquele menino que vendia aguardente produzida no fundo do quintal seria capaz de construir um verdadeiro império da pornografia. A vida de Larry Flynt foi marcada por excessos e longos embates com o conservadorismo americano, especialmente por conta da revista que consagrou sua marca, a Hustler - que adotava uma estética considerada repugnante, mas que funcionava provocativamente em oposição à famigerada Playboy. Flynt transformou sua perversão em profissão e assim, sua vida foi marcada por processos e um atentado que o deixou preso à uma cadeira de rodas. Aos 76 anos tem dificuldades para falar e escutar, tem o rosto visivelmente inchado e é cercado de guarda-costas, no entanto, não perdeu o espírito transgressor capaz de criticar o governo Trump e o cenário político conservador que se desenha ao redor do mundo. Para entender melhor a vida deste personagem americano (e somente nos Estados Unidos seria capaz de alimentar uma figura feito Flynt) vale conferir a cinebiografia lançada em 1996 dirigida por Milos Forman. O longa foi recebido com desconfiança na época de seu lançamento e foi um fiasco nas bilheterias americanas. A crítica achou um verdadeiro exagero apresentar como ícone da liberdade de expressão um pornógrafo com dezenas de processos nas costas, no entanto, as qualidades cinematográficas o fizeram ser indicado a cinco categorias no Globo de Ouro (filme, direção, ator, atriz e roteiro) e duas no Oscar (direção e ator) Woody Harrelson (indicado ao Oscar) está excepcional na pele de Flynt (embora o faça com muito mais simpatia do que o verdadeiro fosse capaz de expressar), o ator cria um verdadeiro anti-herói americano com todas as características que necessita para ser envolvente, especialmente quando alfineta a hipocrisia de um povo que adora fingir santidade. A grande surpresa do filme ficou por da escolha da roqueira Courtney Love para viver a esposa de Flynt, a stripper bissexual Althea Leasure. O diretor ressaltou que percebeu em Coutney uma sensualidade agressiva que caia muito bem na personagem - e a escolha vista com desconfiança por produtores renderam páginas e páginas de matérias na imprensa (vale lembrar que a Courtney era para os anos 1990 o que Amy Winnehouse foi para o século XXI, seu envolvimento em confusões e uso de drogas estavam sempre na mídia, especialmente após a morte de seu esposo Kurt Cobain do Nirvana). Courtney ainda é uma das artistas mais subestimadas das últimas décadas, mas colheu vários elogios e foi indicada ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática (mas com o tempo os projetos no cinema foram rareando). Debaixo de toda a narrativa jurídica em torno da liberdade de expressão (e sua garantia pela primeira emenda da Constituição Americana), Milos conta também a história de amor de dois personagens controversos que se revelam verdadeiras almas gêmeas. A narrativa é ágil, a reconstituição de época é competente e o trabalho com os atores tem o padrão de qualidade do diretor, mas o filme paga o alto preço de apresentar Larry como o grande defensor da liberdade de expressão na Terra do Tio Sam (o que não deixa de ser uma ideia interessante). Rejeitado em seu tempo e visto mais de vinte anos depois, O Povo Contra Larry Flynt mostra-se ainda mais contundente em tempos de radicalismo, além de ressaltar o gosto de seu diretor por personagens que incomodam muita gente. Milos Forman fará falta.
O Povo Contra Larry Flynt (The People Vs. Larry Flynt / EUA- 1996) de Milos Forman com Woody Harrelson, Courtney Love, Edward Norton, Brett Harrelson, Donna Hanover, James Cromwell e Crispin Glover.
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