Barão Vermelho: uma carreira de desafios.
É inevitável imaginar um filme que conte a história de sua banda de rock favorita - e parece que a ideia ganha charme especial se tiver no título o nome de uma canção que cai como uma luva para a história a ser contada (eu mesmo na época da faculdade esbocei uma cinebiografia sobre The Smiths com o título irônico de What Difference Does it Make?). Por que a Gente é Assim? é um dos clássicos da banda Barão Vermelho (lançada precisamente em 1994) e serve com perfeição para o título deste documentário sobre uma das bandas mais importantes do Rock Nacional. Surgida em 1981 e na estrada até hoje, o Barão Vermelho enfrentou várias surpresas em sua carreira, que exigiram que a banda se reformulasse várias vezes. Chega a ser lugar comum dizer que os anos 1980 trouxeram uma força incomparável ao rock nacional. Jovens com suas guitarras e letras que remavam contra a maré das rádios, ganhavam espaço nos palcos e chamavam atenção de astros renomados da música nacional. Com o Barão Vermelho não foi diferente, principalmente quando escolheu o ator Agenor de Miranda para assumir os seus vocais (após a desistência de Léo Jaime). O Barão era até então uma banda de garagem formada por quatro rapazes de influências variadas, mas que prezava por uma sonoridade de rock clássica, com toques de blues misturado à uma malandragem carioca que ganhou força com os versos de Agenor, mais conhecido como Cazuza. O filme revela como a chegada daquele rapaz incomum transformou a banda, não apenas em suas composições, mas também em sua postura perante o público. Desbocado e irreverente, a amizade de Cazuza com o contido Frejat ganha destaque em vários momentos, até o fatídico episódio que gerou a saída do vocalista da banda. Este golpe do destino poderia ter posto fim ao Barão, mas pelo contrário, ajudou a consolidar a identidade do grupo quando Cazuza partiu para a carreira-solo. A cineasta Mini Kert faz um ótimo trabalho ao contar de forma cronológica a trajetória da banda, construindo o filme através de rico material de acervo e entrevistas com os membros da banda. A proposta mostra-se bastante contundente ao pontuar o caminho da banda através dos seus álbuns e a identidade de cada um deles (além da disputa interna de egos na assinatura das canções). Embora soe um pouco apressado quando aborda os trabalhos mais recentes da banda (e deixe uma lacuna ao final que só comprova como a história do Barão é cheia de percalçso), não falta momentos marcantes nesta história que se expanda para além dos membros da banda. Da presença de Ezequiel Neves, passando pela repercussão de canções gravadas por Caetano Veloso e Ney Matogrosso, a participação no Rock in Rio, a morte de Cazuza pelas consequências do HIV, a chegada revolucionária da MTV no Brasil, acompanhar a carreira do Barão Vermelho é conhecer parte importante da cultura pop brasileira. A cineasta sabe disso e faz um trabalho memorável e um tanto nostálgico sobre os garotos que queriam ver o dia nascer feliz.
Barão Vermelho - Por que a A Gente é Assim? (Brasil/2017) de Mini Kert com Roberto Frejat, Guto Goffi, Cazuza, Lucinha Araújo, Ezequiel Neves, Peninha e Ney Matogrosso. ☻☻☻☻
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