Glenn: será que o Oscar sai desta vez?
O escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce) está prestes a ganhar o Nobel de Literatura e parte para receber o prêmio acompanhado da esposa, Joan (Glenn Close) e do filho, David (Max Irons) - que começa a criar os primeiros esboços como escritor. A filha não acompanha a homenagem ao trabalho do patriarca por estar prestes a ter um bebê. A graça do filme é ver que o que era apenas uma impressão no início do filme, logo ganha corpo com os ressentimentos acumulados ao longo de décadas de casamento e a presença de um segredo que teria mais impacto se não fosse algo bastante comum em filmes calcados no mundo literário (eu mesmo já sabia assim que li a sinopse do filme). No entanto, você nem se importa muito com a previsibilidade do roteiro quando se assiste ao desempenho de Glenn Close na pele de Joan. Não há dúvidas de que Glenn é uma grande atriz, o mais interessante é que ela ficou famosa por personagens exuberantes, vilanescas e até escandalosas, mas aqui ela faz um trabalho bastante intimista, contido, até mais do que o visto em Albert Nobbs (2011) que lhe valeu a sexta indicação ao Oscar. Sem Glenn, possivelmente, A Esposa não chamaria atenção, nem apareceria entre os indicados na premiações deste ano. Concorrendo na categoria de melhor atriz, a obra rendeu à Glenn mais uma chance de ter seu talento reconhecido pela Academia e dificilmente ela deve sair de mãos abanando da festa - desculpe lobby Lady Gaga, Glenn merece mais, não apenas apenas por sua performance repleta de ambiguidades, mas por toda uma carreira com personagens inesquecíveis. Se você assistir o filme a mais de uma vez, provavelmente cada expressão da atriz ganhará um novo sentido, são nas entrelinhas de um olhar, um esboço de sorriso, uma ironia, uma frase cortante, que a atriz enriquece ainda mais a sua personagem. É verdade que ela está bem acompanhada por Jonathan Pryce, que tem a função de encarnar um gênio que é um verdadeiro grosseirão na vida particular, mas ele sabiamente não o transforma no vilão da história, apenas num sujeito comum com qualidade e defeitos como qualquer mortal. Max Irons tem o trabalho mais fraco da sessão por não conseguir dar nuances mais sólidas à cara emburrada de David (que ainda tenta sair da sombra do pai, mesmo se alimentando dela) enquanto Christian Slater não tem muito o que fazer na pele de um escritor que persegue a família Castleman (mas consegue até um efeito cômico nas aparições repentinas). O cineasta Björn Hunge também não capricha na parte visual do filme, sua narrativa é bastante simples e concentrada nos atores que tem mãos, mas o maior erro foi optar por flashbacks que são apenas redundantes diante do trabalho de seus atores veteranos (vale ressaltar que quem encarna Joan quando jovem é Annie Starke, filha de Glenn). A Esposa termina sendo menos marcante do que poderia, mas sua protagonista tem um trabalho memorável (e depois de levar o Globo de Ouro e o Critic's Choice Awards, deve ainda levar o SAG neste domingo e, provavelmente, o Oscar em fevereiro).
A Esposa (The Wife / EUA - 2018) de Björn Hunge com Glenn Close, Jonathan Pryce, Max Irons, Christian Slater, Annie Starke, Harry Lloyd e Elizabeth McGovern. ☻☻☻
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