quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Na Tela: Infiltrado na Klan

Adam e John: missão complicada. 

O cineasta Spike Lee chamou atenção do Oscar em 1989 quando lançou  Faça a Coisa Certa. O filme conjugava frescor e urgência e caiu nas graças da Academia, indicando Lee na categoria de Melhor Roteiro Original e o ator Danny Aielo como ator coadjuvante. Apesar da indicação, a Academia colocou os olhos novamente no cineasta somente em 1992 com o polêmico Malcolm X, indicando Denzel Washington pelo desempenho memorável como o protagonista. O filme ainda concorreu ao prêmio de melhor figurino e deixou Lee fora das indicações. O cineasta foi indicado novamente somente em 1998 pelo documentário 4 Little Girls e com o tempo suas obras ficaram mais diversas, intercalando temáticas mais politizadas e outras de puro entretenimento (como o sucesso O Plano Perfeito/2006). Lee acabou recebendo um Oscar honorário em 2016, o que torna ainda mais interessante que três anos depois ele apareça novamente na festa com um filme de sucesso (rendeu mais de cinco vezes o seu orçamento ao redor do mundo) indicado em seis categorias (filme, diretor, ator coadjuvante/Adam Driver, roteiro adaptado, trilha sonora e montagem). O filme é baseado em uma inusitada história real ocorrida nos anos 1970, quando o primeiro policial negro de Colorado Springs começa a investigar a Ku Kux Klan. A investigação começa meio que por acaso e ele precisa da colaboração de um colega de trabalho para que o trabalho prossiga, afinal, ele precisa de alguém para se passar por ele no assustador grupo pregador da supremacia branca. O filme segue esta investigação que tinha tudo para dar errado, a começar pelo próprio departamento de polícia que não acreditava muito no que a investigação perseguia e, em algumas cenas, parece até que existia a intenção de sabotar o trabalho da dupla. John David Washington (filho do Denzel) consegue ser bastante carismático na pele do detetive Ron Stallworth, transmitindo a sensação de peixe fora d'água no trabalho - a começar pelo incômodo inevitável em sua primeira missão de investigar um grupo de universitários militantes negros, lá ele conhece Patrice Dumas (Laura Harrier) e tudo fica ainda mais confuso entre suas convicções e obrigações. Lee consegue extrair o que pode haver de cômico e dramático nesta história, conseguindo um equilíbrio impressionante nos dois pólos em que o filme se equilibra. No entanto, foi Adam Driver que conseguiu uma indicação ao Oscar por viver o parceiro de Ron, Flip Zimmerman, que desperta a suspeita de alguns, a simpatia de outros e cabe ao ator injetar credibilidade a uma missão complicada (especialmente porque Flip precisa dar conta de seus próprios conflitos). Ainda que algumas cenas estejam sobrando e o filme seja desnecessariamente palavroso em alguns momentos (o que lhe rende longas duas horas e quatorze minutos de duração), Infiltrado na Klan cria uma tensão crescente que funciona muito bem. O visual colorido e estilos também ajuda a manter o interesse o visual do filme - além do inevitável contraste da inteligência de alguns personagens com a mentalidade estreita de outros.

Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman/EUA-2018) de Spike Lee com John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Alec Baldwin, Robert John Burke, Topher Grace e Michael Buscemi. ☻☻☻☻

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