De vez em quando alguém sugeria que eu assistisse o filme Borgman do qual eu não lembrava de ter escutado qualquer comentário na mídia sobre seu lançamento. Geralmente as pessoas ressaltam que é um filme estranho, mas nada que atiçava muito minha curiosidade. O que realmente me motivou ver o filme foi quando descobri que o diretor é Alex Van Warmerdan, o qual conheci quando o Max era o canal da HBO que passava filmes difíceis de encontrar, como o instigante Os Últimos Dias de Emma Blank (2010), assinado por ele. Borgman foi lançado três anos depois e manteve a linha provocativa do cineasta. O filme permite várias leituras e pode até se encaixar em uma gênero que entrou na moda um tempo depois, o folk horror. Isso se deve ao fato do misterioso protagonista proporcionar duas leituras durante a sessão, a primeira (a realista) seria a de um sem teto que invade o cotidiano de uma família e à leva à ruína. A segunda (a fantasiosa?) seria a de que Borgman e seus companheiros são criaturas que vivem no subterrâneo da floresta até que passam a interagir com pessoas comuns da superfície com segundas intenções. Esta segunda leitura é reforçada com a frase bíblica que abre o filme como um SPOILER do que veremos ao longo da sessão ("e eles desceram sobre a terra para fortalecer suas fileiras") assim como o primeiro ato, que apresenta um grupo de pessoas (entre elas, um padre) que parte para expulsar r aqueles seres que vivem no subterrâneo da floresta. Sem ter para onde ir, Camiel Borgman (Jan Bijvoet) se encaminha então para a casa de Richard (Jeroen Perceval) e Marina (Hadewych Minis), que vive em uma casa confortável junto com os filhos pequenos. Borgman pede permissão para tomar banho naquela casa, mas durante a conversa diz conhecer Marina, que não faz a mínima ideia de quem ele seja. Começa então uma verdadeira rotina de suspeitas, desconfianças e segredos entre o casal - que vai totalmente contra a aparência de perfeição que ostentam. Resta dizer que aquele homem desconhecido começa a ser cada vez mais presente na rotina da família e, aos poucos, sua presença começa a inserir seus companheiros nas redondezas, rendendo acontecimentos estranhos e assustadores que deixam aquela impressão que as famílias permitiram que o mal se revelasse em suas casas. Alex Van Warmerdan conduz o filme em ritmo lento, instigando o estranhamento do espectador e também o seu interesse pelos acontecimentos surpreendentes que se anunciam. Existe algo de sobrenatural sobre a origem de Borgman o que tempera o filme com uma espécie de horror sutil que é ampliado ainda mais pelo senso humor sinistro que perpassa toda a narrativa. Talvez o grande trunfo do filme seja nunca deixar claro as intenções do personagem título enquanto caminha para o seu desconfortável desfecho. Não é o tipo de filme que verei novamente, mas considero notável a forma como ele trabalha as dicotomias entre ordem e caos, bem e mal graças à habilidade do diretor em lidar com alegorias em suas narrativas.
Borgman (Holanda / 2013) de Alex Van Warmerdan com Jan Bijvoet, Jeroen Perceval, Hadewych Minis, Alex Van Warmerdam e Tom Dewispeleare. ☻☻☻☻
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