Dave e Daisy: aquela sensação de querer ser invisível. |
Fran (Daisy Ridley) é a funcionária de um escritório que passa a maior parte do expediente quieta em seus afazeres. Embora dê conta de seu serviço, várias vezes durante o dia, seu pensamento divaga sobre estar morta. Acontece que por boa parte do seu dia, Fran parece não ter vida. Ela não interage muito com os colegas. Não entra em contato com a família. Não conversa com vizinhos ou parece ter amigos conquistados ao longo da vida. Pode ser um mecanismo de defesa para evitar decepções, mas também um comportamento que instiga o espectador a conhecer um pouco mais daquela personagem que não demonstra ter atitudes suicidas. A esperança de alguma mudança em sua vida parece vir com a chegada de um novo funcionário, Robert (Dave Merhej), que começa a conversar com Fran tirando dúvidas pelo chat da empresa. Os dois começam a se aproximar, pelo menos até uma distância considerada segura por ela. Existem boas ideias neste filme da diretora Rachel Lambert que não faz concessões na condução da narrativa. A protagonista tem poucos diálogos, o ritmo é lento (arrastado mesmo), não existem alívios cômicos óbvios e desperta a estranha sensação de uma certa poesia quando a protagonista imagina a morte. Isolada em seu mundinho, Fran recebe um trabalho bastante intimista de Daisy Ridley que dá conta dos conflitos internos de sua personagem sem maiores problemas, especialmente quando sua personalidade entra em choque com as expectativas de Robert com relação à ela. Ele mal imagina o esforço que ela faz para deixar que ele se aproxime de seu universo particular e, ao mesmo tempo, o filme deixa claro que de nada adianta o mundo se abrir para Fran, se ela permanecer fechada. Esta tentativa de receptividade da personagem existe quando ela aceita o convite para sair e em outros momentos do filme, mas o oposto também ocorre quando ela percebe que Robert pretende tomar ainda mais espaço em sua vida. Obviamente que ela se sente ameaçada e com isso, algumas de suas atitudes a fazem repensar no seu papel em tudo o que sente. Parece complexo demais? Talvez seja mesmo e Às vezes eu Penso em Sumir termina justamente quando a personagem revela seus maiores segredos, em plena consciência do estranhamento que pode provocar, ela recebe a cena mais terna do filme. Aposto que durante a confissão ela desejava desaparecer, mas com a resposta recebida, considero que ela sentiu-se grata por existir. Não é um filme para todos os gostos, mas faz pensar sobre a vida e a forma como nos relacionamos com as pessoas que atravessam nosso caminho. Sejam Frans ou Roberts.
Às Vezes eu Penso em Sumir (Sometimes I Think About Dying / EUA-2023) de Rachel Lambert com Daisy Ridley, Dave Merhej, Parvesh Cheena, Marcia DeBonis, Megan Stalter e Bree Elrod. ☻☻☻
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