sábado, 31 de agosto de 2024

PL►Y: O Corvo (1994)

Brandon Lee: morre uma estrela.

Podem me chamar de chato e conservador, mas está para nascer alguém que me justifique fazer o remake de um filme que já era bom o suficiente dentro de sua proposta. Não vejo nada demais em refazer um filme que não cumpriu o que prometia, mas mexer numa ideia que já surpreendia o público com suas qualidades inesperadas me soa como um tiro no pé. É verdade que em Hollywood existe a ideia de que o lançamento baseado em uma ideia já testada e aprovada tem mais possibilidade de fazer sucesso nas telas. Não vou dizer que já vimos essa teoria naufragar um milhão de vezes, mas (como diria meu primogênito) fazer o quê? O que posso fazer é ver na semana em que estreou a nova versão de O Corvo o clássico cult lançado em 1994 baseado na graphic novel de James O'Barr lançada em 1981. Barr se inspirou na morte de sua namorada para criar a trama sobre a morte não ser o fim para quem deseja vingança. Banhada em um misto de raiva e melancolia, a trama segue a história de Eric Draven, que retorna do mundo dos mortos para perseguir os criminosos que assassinaram ele e a namorada, Shelly. Em 1994 as adaptações de quadrinhos ainda eram poucas e viam no Batman (1989) de Tim Burton uma referência a ser seguida. Provavelmente a versão para as telonas de O Corvo idealizada por Alex Proyas não teria saído do papel se não fosse o sucesso do homem-morcego. O visual da cidade no filme lembra muito Gotham City, mas a direção de arte apresentada aqui investe ainda mais na atmosfera meio gótica, sombria com um certo verniz punk para sua violência estilizada (algo que o filme de Burton não trazia). A mistura quando estreou impressionou o público que ainda precisou lidar com a curiosidade gerada pelo ator principal que faleceu durante as filmagens. Brandon Lee (filho do Bruce Lee) morreu precocemente por conta de um projétil que estava em uma arma usada durante as filmagens, uma verdadeira tragédia. O filme ainda precisava ser finalizado e foi utilizado um dublê e o uso de efeitos digitais para sua conclusão. Lee está perfeito na pele de Eric Draven e o longa soa como a promessa de um astro que partiu cedo demais (ele recebeu até uma indicação póstuma de melhor ator no MTV Movie Awards que era um parâmetro de popularidade de um filme na época). Ele confere um desamparo ao personagem que traz um diferencial para concretização de sua vingança em tom sobrenatural (dentro e fora da tela). A trama em si não traz novidades, especialmente por conta dos seus vilões unidimensionais perseguidos um a um, mas Proyas confere um ritmo preciso com uma trilha sonora roqueira que fez muito sucesso na época ao som de the Cure, Nine Inch Nails, Stone Temple Pilots e Rage Against the Machine. A mistura de tantos elementos despertou não só a curiosidade do público na época, mas passado tanto tempo, o filme permanece com uma aura incomum. Ainda hoje é muito interessante ver o filme e perceber o somatório que ajudou o longa a fazer sucesso. Se levarmos em conta que a ideia rendeu outros dois filmes (que ninguém faz questão de lembrar), uma série de TV e um remake fadado ao fiasco, a magia em torno do filme se torna ainda mais curiosa. 
 
O Corvo (The Crow/EUA-1994) de Alex Proyas com Brandon Lee, Ernie Hudson, Rochelle Davis, Michael Wincott, David Patrick Kelly,  Michael Massee e Angel David. ☻☻☻

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