O casal e o casulo: isso é tão Black Mirror...
Se você considera que a série Black Mirror precisa de alguém para dar novas ideias às futuras temporadas, participe da campanha para que a diretora e roteirista Sophie Bartes participe da equipe criativa nas próximas temporadas. A francesa tem apenas três filmes no currículo e dois deles partem de ideias interessantes que nascem de nossa relação com a tecnologia gerando tramas interessantes de ficção científica. A diretora chamou atenção com o excelente Almas à Venda (2009), em que Paul Giamatti, em crise existencial, resolve extrair a alma e comprar a de um poeta russo para dar conta de um novo papel. Agora, a diretora imagina como poderá ser a gestação de um bebê no futuro. Aqui, uma empresa aluga um útero artificial em formato de ovo (feito de uma membrana porosa) para que o embrião se desenvolva até o dia do parto. Assim, conforme o material promocional da empresa propaga, "todo o desconforto físico da mãe é evitado e o pai poderá interagir mais com todo o processo de gestação". É com certo receio que o casal Rachel (Emilia Clarke) e Alvy (Chiwetel Ejiofor) se envolvem nesta experiência de alto custo após serem selecionados dentre uma longa fila de interessados. Alvy é o que mais demora para se acostumar com a ideia, professor de Botânica, ele visivelmente considera que a humanidade se tornou obcecada pela tecnologia, a associando à um certo fetiche de que toda tecnologia gera algo bom associado ao bem estar. Alvy traz uma certa nostalgia dos tempos em que a relação da humanidade com a natureza (e consigo mesma) era mais próxima. Já Rachel é mais aberta às novas tecnologias e considera inevitável que a vida avance cada vez mais rumo a novas descobertas. Existe um tanto de crítica a este mundo no texto de Bartes, não sendo poucas às vezes em que as Inteligências Artificiais com que os personagens interagem deixem clara uma certa exaustão dos protagonistas em interagir com a tecnologia o tempo inteiro, da mesma forma, conforme o bebê é gerado, existe a sensação de que aquela família se tornou cobaia de um experimento. É obviamente uma via de mão dupla, existe o interesse do casal em ter um filho, mas também o interesse da empresa em aprimorar sua obra e gerar cada vez mais lucro. Toda esta parte de deslumbramento com a tecnologia se equilibrando a um certo estranhamento garante o interesse pelo filme, mas o filme se arrasta um bocado ao evitar se aprofundar em polêmicas sobre a situação. É interessante a forma como Alvy se aproxima cada vez mais do casulo e gera algum ciúme na esposa, da mesma forma, conforme ela se aproxima mais do casulo, se dá conta de como todo aquele processo beira o bizarro com as mediações de uma empresa, no entanto se fosse um episódio de Black Mirror, a duração seria menor e a ideia não pareceria tão esticada na tela, deixando menos evidente os pontos que o roteiro deixa de tocar para ficar em cima do muro (não se fala sobre casais homoafetivos aderindo ao serviço, os perigos do serviço ou o custo de ludibriar uma empresa milionária). Chiwetel e Emilia se esforçam em cena, mas seus personagens são visivelmente sem graça durante todo o processo, até mesmo o ato de rebeldia do casal rumo ao desfecho não chega a empolgar. A ideia do filme é genial, mas o resultado beira o insosso perante a baixa voltagem impressa à toda situação, faltou ser um filme redondinho, algo que a diretora já se mostrou capaz em Almas à Venda, que talvez já possa ser considerado sua obra-prima.
A Geração do Futuro (The Pod Generation / Bélgica - França - Reino Unido /2023 ) de Sophie Bartes com Chiwetel Ejiofor, Emilia Clarke, Rosalie Craig, Vinette Robinson, Megan Mackzo e Jelle de Beulle. ☻☻
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