domingo, 25 de agosto de 2024

Na Tela: Alien - Romulus

Cailee e seu algoz: herdeira respeitosa de Ripley

Tenho a impressão que a franquia Alien estava desacreditada. Depois da decepção de Prometheus/2012 (que eu adoro e com o tempo passou a ser reavaliado por público e crítica) e do fracasso comercial de Alien Covenant (2017), a pegada diferentona impressa por Ridley Scott à saga foi para a gaveta. Embora ele tenha ideias para um terceiro filme (que ainda possa ser feito algum dia) o estúdio resolveu que a franquia voltasse às suas origens, remetendo diretamente aos dois primeiros longas da série. Considerando que o interesse pelo monstrengo era incerto, resolveram que uma nova produção seria feita diretamente para o streaming (lembrando que no meio de tudo isso existiu o projeto cancelado de Alien5 de Neill Blomkamp que traria até Sigourney Weaver de volta). Convidaram o uruguaio Fede Alvarez para capitanear o novo episódio e deixaram o rapaz desenvolver sua ideia ambientada entre os filmes Alien (que é ambientado em 2122) e Aliens (que ocorre em 2179), assim nasceu Alien: Romulus (que acontece em 2142). É a primeira vez que os protagonistas não são astronautas treinados, mas um grupo de jovens nascidos e criados em um planeta colonizado para mineração e, assim como seus pais, percebem ter grandes chances de morrer ali. Essa sensação é exemplificada por Rain (Cailee Spaeny), que descobre que sua permissão para sair daquele planeta cinzento acaba de ser adiada por vários anos. Rain compartilha seu sonho de sair daquele lugar com o irmão, Andy (David Jonsson), que na realidade é um androide que tem como principal diretriz proteger a irmã. Eis que Rain é convidada por um grupo de jovens mineradores a participar de uma fuga rumo ao planeta dos seus sonhos. Para isso, eles precisam roubar uma nave abandonada utilizando as funcionalidades de Andy. O problema é que nenhum deles imagina o que os aguarda naquela nave perdida. O diretor é um sujeito esperto e sabe que para o filme ampliar seu apelo perante ao público, ele precisa de personagens que provoquem identificação e faz isso muito bem. Para além da relação entre Rain e Andy, insere todos em uma situação de opressão que motiva suas ações mais arriscadas, além disso, também estabelecemos relações (de um jeito ou de outro) com Tyler (Archie Renaux), Navarro (Aileen Wu), Bjorn (Spike Fearn) e Ray (Isabela Merced) e cria-se a tensão quando vemos que cada um deles está em risco. Acredito que sem este laço, o apelo de todos os sustos, gelecas e ambientação industrial sombria (típica dos primeiros filmes) teriam menos impacto. Não satisfeito com isso, o diretor evoca diretamente vários elementos da franquia, assim, o integra naquele universo e resgata aspectos que pareciam esquecidos após tantos anos (como o sangue ácido do monstrengo), assim como utiliza ângulos e cenas que se tornaram clássicas na saga. Porém, o filme não se torna uma colcha de retalhos, afinla tem ideias próprias e uma plena consciência de onde quer chegar, especialmente quando insere o dilema de Andy (realçado pelo excelente trabalho de David Jonsson em fazer muito com tão pouco em suas expressões) entre zelar por Rain ou pela empresa que o construiu (e neste ponto existe um personagem que faz referência direta ao primeiro filme que nem vou citar). Falando em Rain, acho importante ressaltar a ótima performance de Cailee Spaeny, que ganhou destaque ao viver Priscilla Presley (em um longa radicalmente diferente deste aqui que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza), curiosamente ela exibia naquele papel o que vemos novamente aqui: a capacidade de expressar vulnerabilidade e força ao desenvolver uma personagem. Aos 26 anos, ela vive uma herdeira da Tenente Ripley com honras e espero que, se houver uma continuação, não façam com ela o mesmo destino desonroso que deram para Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) de Prometheus. No fim das contas, o estúdio gostou tanto do resultado (simples, direto e bem realizado) que resolveu lançar no cinema e... o longa se tornou o atual filme mais assistido ao redor do mundo. Esperado com baixas expectativas e revelando ser uma grata surpresa, Alien - Romulus promete dar novo fôlego à série (o que deve ajudar muito no sucesso da série Alien Earth que deve estrear em breve com acontecimentos que precedem tudo que vimos até aqui), Alvarez já está cheio de novas ideias, fala-se até de um novo encontro com Predador, o que eu acho péssimo, mas diante do que o moço fez aqui, pode ser até interessante. O moço ganhou crédito, algo que somente James Cameron (diretor de Aliens: O Resgate) conseguiu ao se deparar com o monstrengo xenomorfo do universo de Ridley Scott. 

Alien: Romulus (EUA-2024) de Fede Alvarez com Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced e Spike Fearn. ☻☻☻

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