Joy: trama de flashback. |
Era natural que depois de Mad Max: Estrada da Fúria (2015) cravar dez indicações ao Oscar (concorrendo para além de categorias técnicas entrou no páreo de melhor filme e direção) e conquistar seis estatuetas (todas técnicas) que o filme seguinte renderia especulações sobre presença em premiações, especialmente por conta de todo o burburinho causado pelo fato da nova aventura estar centrada em Furiosa, a personagem antológica de Charlize Theron (que roubou a cena do Max vivido por Tom Hardy). O hype estava no auge, mas diminuiu quando foi dito que Charlize não voltaria para um novo filme, que deveria contar a origem da personagem. Coloque uma pandemia no meio e uma greve de roteiristas e o que temos é quase dez anos de intervalo entre um filme e outro. Se havia mostra de que os ânimos do público haviam esfriado, a coisa se concretizou quando Furiosa - Uma Saga Mad Max flopou nas bilheterias. Diante do fracasso de um dos filmes que era alardeado como um dos mais aguardados do ano, não faltaram especulações sobre o motivo das pessoas não irem mais aos cinemas. Argumentaram que o gasto é alto (ingresso, estacionamento, lanche, tempo de deslocamento) são postos em um pacote em que o público prefere aguardar alguns meses e vê-lo no streaming. Ok, mas por que o público escolhe aguardar um pouco mais para ver um filme em casa e outros prefere ver no cinema (e o sucesso de Divertida Mente2 - que tem entrada garantida no Disney+ - e o recente Alien: Romulus surpreenderam nas bilheterias)? O que é difícil de admitir é que o próprio filme seja a explicação. O diretor George Miller imprime em Furiosa o mesmo esmero técnico de Estrada da Fúria, são cenas de ação elaboradas, um ritmo frenético, ação, brutalidade estilizada e o que mais fizeram daquele filme um sucesso, só que o sucesso de 2015 ampliava tudo que os filmes anteriores da saga trazia, Furiosa os repete. Por mais de Anya Taylor Joy se esforce como a versão jovem da personagem, ela não é a Furiosa de Charlize Theron e a necessidade do filme rezar a cartilha Mad Max com seus vilões consagrados, seus carros correndo pelo deserto enquanto gangues tentam destruir umas as outras deixam aquela sensação inevitável de que já vimos tudo isso antes. Volte agora a pensar nos gastos do público e você pagaria tanto para ver mais do mesmo? Muita gente decidiu que não. Obviamente que muita gente vai ponderar sobre o discurso anti-lacração, mas então eu lembro de Alien: Romulus (e de toda a saga com Ripley e suas discípulas) e não sei se ele se encaixa por aqui. Sobre o filme cabe dizer que ele não é muito original na criação da origem de sua vigorosa personagem, sendo exatamente o que já imaginamos que fosse. Num mundo em ruínas, quando pequena ela foi sequestrada por uma gangue e foi parar na mão de um sujeito sem escrúpulos, o Dementius (achei péssima escolha colocar Chris Hemsworth no papel, ele parece preso em Thor: Amor e Trovão/2022 até hoje) e come o pão que o apocalipse amassou. Obviamente que ela cresce revoltada e, diante de circunstâncias, que não vale detalhar muito por aqui, cresce com sede de vingança. É sobre isso. A maioria dos personagens me pareceu idiota em toda ação e correria em quase três horas de filme. O ponto alto do filme fica por conta do esforço de Joy e a grata surpresa de ver Tom Burke (geralmente escalado em filmes indies) como parceiro da heroína. Os dois tem uma química inesperada e se torna a maior surpresa do filme, embora o desfecho do romance também siga o caminho da obviedade. Apesar da sensação de dejá vù que paira sobre o filme, seria demais dizer que Furiosa (orçamento inchado de 180 milhões de dólares e bilheteria aproximada de120 milhões) merecia fracassar, mas as reflexões de sua bilheteria decepcionante poderia fazer Hollywood repensar um pouco sobre seus projetos ambiciosos e flops recentes.
Furiosa - Uma Saga Mad Max (Furiosa: A Mad Max Saga - 2024/ Austrália - EUA) de George Miller com Anya Taylor-Joy, Crhis Hemsworth,Tom Burke, Alyla Browne,Lachy Hulme, John Howard e Nathan Jones. ☻☻☻
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