Faz um tempo que Demosthenes (Yorgos Tsiantoulas) resolveu abandonar a carreira de ator, talvez tenha se cansado da incerteza de aparecer bons projetos. Agora ele trabalha num escritório. Se a vida profissional parece sob controle, a amorosa está complicada. Ele manteve por anos um relacionamento com Panos (Nikolaos Mihas), mas agora lhe restou apenas a simpática cadelinha Carmen, que o ex-parceiro estava prestes a deixar em um abrigo. Embora Demosthenes esteja saindo com outros homens, sem procurar nada sério, existe um certo desconforto nos rumos que seu coração está tomando. Quando o amigo Nikitas (Andreas Labropoulos) lhe diz que está prestes a conseguir financiamento para seu primeiro filme, os dois resolvem criar o roteiro juntos. Cogitam adaptar uma peça que criaram a um tempo atrás, mas depois consideram escrever um pouco sobre as angústias do ex-ator e, conforme lidam com as limitações do orçamento, as cenas do roteiro começam a dividir a tela com a realidade dos amigos que vivem em uma paradisíaca praia da Grécia. Nosso Verão Daria um Filme é uma comédia queer bastante despojada e lida com bastante naturalidade com a nudez masculina e as cenas de sexo enquanto faz graça com a busca pelo namoro perfeito e a estrutura de um filme. Existe aqui um exercício de metalinguística o tempo inteiro (como a cena em que os amigos descobrem que o uso de animais aumenta o custo de produção e resolvem diminuir as cenas do pet em cena - e passamos a ouvir somente os latidos do bicho), este jogo narrativo deixa o filme mais divertido que a maioria. Há também uma certa ironia em apresentar Demosthenes como um verdadeiro deus grego, objetificando despudoradamente o físico do ator Yorgos Tsiantoulas em contraste com suas inseguranças em se relacionar com o mundo, seja com o pai, com os parceiros, com a cadelinha e até com suas ambições. Assim como o roteiro dos amigos, a vida do moço parece não avançar muito durante a sessão. Se para o protagonista a coisa já está assim, ela piora um tantinho mais quando vemos que Nikitas recebe menos profundidade, sendo quase um narrador dos pontos que ditam o rumo da narrativa - e que deve obedecer para construir seu filme. Apesar do tom de brincadeira misturada a alguma ousadia (se você ainda considera nudez masculina e cenas tórridas entre dois homens algo ousado), o que mais chama atenção no filme são as paisagens praianas valorizadas pela fotografia belíssima. Se você é cinéfilo, o filme também chama atenção para um tipo de cinema feito na terra de Platão que é mais convencional do que a chamada Estranha Onda Grega que se tornou referência mundial para o cinema produzido naquele país nos últimos anos. Este aqui é solar e bem humorado, poderia ser feito em qualquer lugar do mundo, embora nem todo lugar tenha aquelas paisagens de cartão postal. No fim das contas, o filme parece uma variação mais sóbria do caótico Rotting in the Sun (2023).
Nosso Verão Daria um Filme (To Kalokairi tis Karmen / Grécia - 2024) de Zacharias Mavroeidis com Yorgos Tsiantoulas, Andreas Labropoulos, Nikolaus Mihas, Roubini Vasilakopoulou e Vasilis Tsigristaris.☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário