Terence e Samantha: atuações premiadas. |
Após assistir recentemente à Teorema de Pasolini (1968), eu lembrei de outro filme com Terence Stamp que sempre tive curiosidade de assistir, mas que demorei muito para assistir. Trata-se de O Colecionador, filme adaptado do livro de John Fowles, produção que recebeu reconhecimento em sua época de lançamento - basta lembrar que seu casal protagonista foi premiado por suas interpretações no Festival de Cannes, que a atriz ganhou o Globo de Ouro de atriz dramática daquele ano e que o Oscar lembrou do filme nas categorias de melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor atriz. O livro de Fowles está entre os meus favoritos e minha relação com ele é bastante particular por conta da atmosfera tensa que constrói ao longo da narrativa, seja na primeira parte em que o personagem masculino conta a história ou na segunda em que a personagem feminina assume a voz da narrativa. Trabalhar com pontos de vistas diferentes em uma mesma obra não é tarefa fácil, mas Fowles cumpre a proposta com louvor e gera um resultado impactante. O roteiro de Stanley Mann e John Kohn não cai na armadilha de fazer o mesmo em sua transição para o cinema e opta por criar uma linha narrativa única, com ênfase nos momentos em que os dois personagens estão em cena, o que gera um resultado bastante eficiente para os admiradores da obra. A trama conta a história de Freddie Clegg (Terence Stamp), um homem comum que coleciona borboletas e que recebe uma fortuna que muda sua vida para sempre. Freddie compra um casarão afastado da cidade, uma residência adequada para que sua ideia mais sombria seja posta em prática. Faz algum tempo que ele admira Miranda (Samantha Eggar) à distância. O que poderia ser apenas uma história de amor platônico torna-se um pesadelo quando ele resolve rapta-la. Ele a leva para o casarão e a instala no porão, sem contato com o mundo exterior, ele espera convencê-la a se apaixonar por ele. A ideia absurda obviamente não dará certo e, enquanto ele segue o plano, ela tenta convencê-lo a deixa-la ir embora e retomar sua vida. A dinâmica entre os dois segue em tentativas dele agradá-la sem que sua mente doentia se dê conta de que a ideia de um "romance" já começa errada em sua raiz, ao mesmo tempo que ela procura negociar sua liberdade, mesmo que aos poucos ela tenha cada vez mais certeza que as insegurança daquele homem é motivada pela loucura. Para um filme lançado em 1965 pode se dizer que envelheceu muito bem na forma como constrói a narrativa cheia de suspense amparada pela dinâmica entre os dois personagens, interpretados de forma marcante por Terence e Samantha. Ele se torou um ícone por sua aparência de galã somada àquelas expressões mínimas que revelam um turbilhão de emoções por dentro, já Samantha não se contenta em interpretar uma mocinha indefesa, nutrindo sua personagem com a força e a inteligência necessárias para desafiar os planos daquele homem. O porão da casa remete claramente aos clássicos do terror e a narrativa sabe como alimentar a tensão claustrofóbica que existe na estranha relação dos dois. A única coisa que me incomoda é a trilha sonora persistente que por vezes se torna irritante, um pequeno problema perante um filme que, de vez em quando, aparece nas listas de melhores suspenses da história do cinema. Em tempos em que relacionamentos tóxicos e abusivos estão em pauta, O Colecionador permanece atual.
O Colecionador (The Collector / Reino Unido - EUA / 1965) de William Wyler com Terence Stamp, Samantha Eggar, Mona Washbourne e Maurice Dallimore. ☻☻☻☻
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