sábado, 14 de dezembro de 2024

PL►Y: Blitz

Soirse e Hefferman: separados pela guerra.

Havia bastante burburinho de que a irlandesa Saoirse Ronan entraria para o seleto clube das atrizes que são indicadas duplamente em uma cerimônia do Oscar. Motivos para isso são seus trabalhos em The Outrun (que lhe rendeu indicações ao British Independent e Gotham Awards) e neste Blitz, novo filme do badalado Steve McQueen. O contraste entre as duas personagens também ajudaria bastante a atriz, já que no primeiro ela vive uma mulher problemática e no segundo uma mãe separada do filho em meio à Segunda Guerra Mundial. Se a indicação sair (o que parece cada vez mais difícil com o congestionamento de interpretações femininas marcantes no ano), provavelmente ela não será por Blitz, que foi recebido com frieza por crítica e público que esperava um pouco mais do encontro do diretor do oscarizado 12 Anos de Escravidão (2013) com a atriz já indicada quatro vezes ao Oscar (nada mal para quem acaba de completar trinta anos). A recepção fria ao filme, que era a grande aposta da AppleTV para os prêmios deste ano, se deve principalmente a trama sem graça que é apresentada. Ambientado durante os bombardeios em  Londres, havia um programa de proteção para deixar crianças a salvo dos bombardeios na capital da Inglaterra. Para mantê-las em segurança, as mães as enviam para o campo até que um dos momentos mais críticos da guerra passasse. Para proteger o filho, George (Elliot Heffernan), a operária Rita (Saoirse Ronan) o envia de trem para o campo, mas o menino preferia ficar ao lado dela naquele momento difícil - tanto que a despedida entre os dois tem sabor de revolta. O menino resolve fugir do trem e voltar para casa, o que o coloca em situações perigosas em meio ao cenário de guerra. Ele acaba encontrando um grupo de outros meninos fugitivos, é protegido por um guarda de bom coração, se envolve com saqueadores, com as inundações do metrô e bombardeios. É estranho que enquanto o filme acompanha as desventuras do menino, deixa a sensação de que não sabe o que fazer com Rita para preencher seu tempo de tela, pelo menos até que ela descubra que o filho fugiu e siga fazendo nada de relevante no filme. Ainda que Saoirse seja uma ótima atriz, ela não consegue fazer milagre com uma personagem tão sem graça. Havia uma campanha para que o novato Elliot Hefferman concorresse ao Oscar de melhor ator, mas a situação do garoto complica ainda mais já que na maioria das vezes seu personagem é mais uma testemunha dos acontecimentos do que protagonista da narrativa. A fotografia em tons de marrom também não ajuda a prender a atenção em uma narrativa esquemática que ambicionava traçar um panorama daquele período. Falta vigor na trama e o verniz antirracista do filme também não consegue sair do lugar comum. Muitos já apontam o longa como o filme mais decepcionante de McQueen. Difícil imaginar que Blitz foi realizado pelo diretor indie que começou a carreira chamando atenção com os incomuns Fome (2008) e Shame (2011), aqui falta a assinatura do diretor que pode fazer muito mais do que vemos aqui. Existem bons momentos, mas são poucos se pensarmos nas ambições da produção. Por vezes tive a impressão que o longa se torna a versão aguada do tcheco O Pássaro Pintado (2019). Longe de mim querer que o George sofresse feito o pequeno Joska, mas custava fazer de Blitz um filme menos redundante?

Blitz (Reino Unido - EUA / 2024) de Steve McQueen com Saoirse Ronan, Elliot Hefferman, Harris Dickinson, Benajmin Clémentine, Paul Weller e Stephen Graham.

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