segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Na Tela: Maria

Jolie: caras, bocas e poses em filme de Larraín.

O chileno Pablo Larraín já deixou claro que curte criar biografias de celebridades femininas famosas dentro de um estilo bastante particular. Na contramão das biopics que viraram moda em Hollywood seguindo uma cartilha óbvia de acontecimentos importantes na vida dos biografados (como se apenas isso ajudasse a compreender a identidade dos mesmos), Larraín costuma escolher um recorte bastante específico de suas divas e construir filmes em que o foco está na personalidade delas. Foi assim com Jackie (2016), que a performance como Jaqueline Kennedy rendeu prêmios e uma indicação ao Oscar para Natalie Portman. Depois ele fez o mesmo com Spencer (2021), que gerou elogios para Kristen Stewart cair nas graças da Academia e entrar no páreo do Oscar de melhor atriz. Agora é a vez de Angelina Jolie estar cotada para o Oscar por sua performance como Maria Callas. A dona de uma das maiores vozes da história recebe aqui uma narrativa com foco nos últimos anos de sua vida ao final dos anos 1970. Callas estava em um período conturbado em sua vida pessoal e profissional, já que se recuperava da decepção amorosa do relacionamento com o milionário Aristotles Onassis (vivido aqui por Haluk Bilginer) e a voz não era mais a potência de antes. Aqui, Callas reflete um pouco sobre a vida como se estivesse participando da produção de um longo programa para a televisão (sob o comando de um jornalista vivido por Kodi Smit-McPhee), pensa sobre sua relação com a música, a dificuldade para cantar novamente, sua postura diante do público, da imprensa, seu relacionamento com Onassis e seus fieis empregados, Ferruccio (Pierfrancesco Favino) e Bruna (Alba Rohrwacher). O texto de Steven Knight (também responsável pelo roteiro de Spencer) consegue ser ainda mais intimista do que as outras biopics do diretor, embora invista ainda mais no imaginário da protagonista enquanto ela abusa de medicamentos e torna sua saúde ainda mais frágil. A fotografia é perfeita, os figurinos são bem feitos, as locações são lindas, no entanto, se existe algo que torna o filme de Larraín um exercício de paciência é a performance de Angelina Jolie. Cotada para as premiações, a atriz que filma cada vez menos, disse ter feito uma pesquisa árdua para viver Maria Callas nas telas e eu realmente gostaria de acreditar que ela executou um belo trabalho, mas tudo se resume à uma mesma expressão durante todo o filme a pose de quem faz um ensaio fotográfico em forma de reality show. Não consigo enxergar Maria Callas na tela, apenas lembro que é a diva quando escuto seu canto dublado. Quero deixar registrado que não vejo nada demais do filme (sabiamente) fazer a atriz dublar a cantora, o problema é que a atuação de Angelina é arrastada, unidimensional e cansativa. Obviamente que a atriz atrai muita atenção para a produção, mas dizer que ela merece prêmios pelo trabalho é um grande exagero. Imagino que viver Callas em um filme de Larraín seja uma chance de ouro para qualquer atriz, pena que Jolie não alcança todas as notas necessárias para viver uma mulher de personalidade tão marcante. Entendo que muita gente gosta das caras e bocas da atriz, mas acho pouco para viver Maria Callas no cinema, em cena ela nunca é a personagem, apenas Angelina Jolie querendo mais um Oscar na estante. 

Maria (Itália / Alemanha / Chile / EUA - 2024) de Pablo Larraín com Angelina Jolie, Pier Francesco Favino, Alba Rohr Rorhwacher,  Kodi Smit-McPhee, Valeria Golino, Haluk Bilginer e Caspar Phillipson. ☻☻

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