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Tilda e Julianne: amigas até o fim. |
As tentativas de levar Almodóvar para filmar em Hollywood foram muitas. Elas começam lá nos anos 1980, mais precisamente quando seu Mulheres à Beira e um Ataque de Nervos (1988) conquistou o público do Tio Sam e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O filme não levou o prêmio, mas Pedro ganhou alguns milhões a mais ao vender os direitos de uma refilmagem para Jane Fonda que o convidou a fazer a nova versão e ele apenas disse não estar interessado. Tempos depois ele foi premiado na categoria com o excelente Tudo Sobre Minha Mãe (1999), um verdadeiro clássico que marcou uma guinada na carreira do diretor. Com seu nome em alta, Almodóvar foi convidado a dirigir Brokeback Mountain (2005) e negou a oportunidade. Em 2012 ele estava prestes a adaptar The Paper Boy de Pete Dexter, mas não ficou muito empolgado e cedeu o lugar para Lee Daniels. Almodóvar passou a exercitar seu trabalho em língua inglesa em curtas metragens, em A Voz Humana (2020) chamou Tilda Swinton para dar apoio e no seguinte, Estranha Forma de Vida (2023) soube capitalizar muito bem o apelo do muso Pedro Pascal ao lado de Ethan Hawke como ex-amantes em um faroeste promissor (e que remetia diretamente ao que o cineasta teria feito em Brokeback Mountain). Era inevitável imaginar que o diretor soltaria em breve um longa metragem em língua inglesa. Ele o fez e o lançou no Festival de Veneza do ano passado, de onde saiu com o Leão de Ouro de melhor filme, desbancando filmes badalados como Ainda Estou Aqui e O Brutalista. Foi um baita exagero. Ainda que o filme conte com uma estética de encher os olhos, valorizada pela fotografia belíssima e conte com duas atrizes do calibre de Tilda Swinton e Julianne Moore no alto dos créditos, o filme não convence (tanto que foi praticamente esquecido nas premiações). A trama (baseada no livro O Que Você Está Enfrentando de Sigrid Nunez) conta a história de duas amigas que não se encontram há muito tempo. Ingrid (Julianne) é uma escritora que possui problemas em lidar com a morte (o que se torna a inspiração para seu novo livro) e quando descobre que sua amiga Martha (Tilda) enfrenta um tratamento contra o câncer, decide reencontrá-la. As duas já viveram muitas histórias juntas, mas a escritora nem faz ideia de que a amiga decidiu terminar com a própria vida e conta com sua ajuda para realizar o plano de tirar a própria vida. Existe um mundo de possibilidades a serem exploradas na trama, mas em sua primeira experiência com a língua inglesa, Pedro sofre com um roteiro duro. A dureza aparece não devido ao tema, mas aos diálogos empolados que causam estranhamento durante toda a sessão, afinal, ninguém fala daquele jeito. Dá até pena de ver as atrizes brigando com um texto tão esquisito. Este ponto drena toda a emoção que o filme precisava. Parece que ao lidar com uma língua a qual não tem muita familiaridade, Almodóvar criou um dos seus filmes mais engessados. Impossível não imaginar como seria o filme em espanhol promovendo um reencontro de suas musas (imagine Victoria Abril e Rossy de Palma juntas em cena?). Apesar do profissionalismo de Tilda e Julianne, O Quarto Ao Lado só arranha a emoção que pretende evocar.
O Quarto ao Lado (The Room Next Door / Espanha - EUA - França / 2024) de Pedro Almodóvar com Tilda Swinton, Julianne Moore, John Turturro, Alessandro Nivola, Victoria Luengo, Alex Høgh Andersen e Alvise Rigo. ☻☻
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