sábado, 26 de abril de 2025

PL►Y: Superstar - The Karen Carpenter Story

Karen: os dramas de uma das vozes mais lindas da música. 

Ainda que tenha presidido o júri do último Festival de Berlim, o cineasta Todd Haynes ficou em evidência na mídia no ano passado por conta de todo imbróglio envolvendo Joaquin Phoenix em sua desistência de realizar um filme gay assinado pelo diretor com cenas tórridas. Reza a lenda que o projeto foi idealizado pelo próprio ator, mas que prestes a começar as filmagens, ele desistiu da produção deixando os envolvidos com um verdadeiro prejuízo nas mãos. Eu fico imaginando o que se passa na cabeça de um astro que convida Haynes para embarcar em um projeto e comete um papelão desses. Ainda que alguns dos filmes do cineasta tenham recebido indicações para o Oscar (ele mesmo indicado pelo roteiro original de Longe do Paraíso/2002), Todd Haynes é um nome que ganhou notoriedade moldado no cenário indie do cinema dos Estados Unidos. Começou a carreira assinando curtas sem concessões, dirigiu clipe para o Sonic Youth, estreou em longa metragem com a estética queer de Veneno (1991) e seu status só cresceu após A Salvo (1995) e Velvet Goldmine (1998), gerando projetos que flertaram cada vez mais com a nata de Hollywood. Antes de tudo isso, entre seus preciosos curtas, existe um que indicava ali um diretor audacioso digno de receber atenção nos próximos anos. Trata-se de uma biografia não autorizada de Karen Carpenter, a cultuada vocalista da dupla de irmãos cantantes The Carpenters. No entanto, para Haynes seria um tanto óbvio realizar o filme com atores, então, ele resolveu usar bonecas Barbie para contar a história. Passado o estranhamento inicial, chama a atenção como o diretor consegue driblar qualquer resquício cômico de parecer uma "brincadeira de bonecas" para expor aos espectadores a triste história da cantora ao lidar com a fama e seus holofotes (ou como diria Fernanda Montenegro: ao lidar com "a glória e seu cortejo de horrores"), aspectos que motivaram seus distúrbios alimentares e culminaram no falecimento em decorrência da anorexia nervosa. A carreira de Karen começou quase que por acaso, já que o irmão, Richard, desejava seguir carreira na música, mas não encontrava a voz certa para seus projetos. Karen acabou revelando-se a parceira ideal para ele, com a bela voz contralto. As habilidade como baterista também era ressaltada pelos críticos e demais músicos do período, mas o sucesso intensificou a tensão com com a mãe controladora, o irmão autoritário, um casamento fracassado e a percepção da própria imagem. Haynes conta toda esta problemática embalado pelas canções da dupla que nunca pareceram tão melancólicas ao evidenciar as camadas emocionais que impregnavam a voz da artista. O trabalho com a iluminação e o trato com as "atrizes" evidencia ainda mais a atmosfera opressiva daquela realidade. Ainda que tenha cerca de quarenta minutos de duração, o filme apresenta algumas entrevistas que destacam aspectos um tanto polêmicos da carreira dos manos, seja a proximidade com o controverso presidente Richard Nixon ou as insinuações presentes sobre a sexualidade do irmão de Karen. Superstar - The Karen Carpenter Story é um filme surpreendente pela forma inusitada com que conta uma história pesada sobre o mundo da música e, não por acaso, tornou-se um filme proibido pelos advogados da família (portanto, se você quer assistir, procure no Youtube antes que ele seja banido mais uma vez). Karen Carpenter faleceu em 1983 aos 32 anos com apenas 31 quilos. 

Superstar - The Karen Carpenter Story (EUA/1987) de Todd Haynes com vozes de Merill Gruver, Michael Edwards, Melissa Brown, Rob Labelle e Nannie Doyle.

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