domingo, 8 de junho de 2025

CICLO DIVERSIDADESXL: Maré Alta

Pigossi: sujeito de coragem.  

Confesso que admiro muito a coragem do ator Marco Pigossi. Ele tinha tudo para ser um dos grandes galãs de sua geração e fazer um trabalho depois do outro na televisão, mas optou por se arriscar. Assumiu ser homossexual no final de 2021 e tornou público seu relacionamento com o cineasta italiano Marco Calvani. O ator já havia se aventurado por produções estrangeiras e aproveitava o sucesso da série Cidade Invisível na Netflix ao redor do mundo. Recentemente, o ator então se aventurou por uma produção dos Estados Unidos dirigida por seu parceiro e colheu elogios da crítica. Pigossi não poderia ser mais fiel à sua nova fase em seu projeto cinematográfico, ele vive Lourenço, um rapaz do interior de São Paulo que mentiu para a família dizendo que iria estudar nos Estados Unidos (em Harvard, é claro), mas na verdade foi viver com um gringo que sumiu sem dar maiores informações. O rapaz passou a ganhar a vida limpando casas de veraneio enquanto espera seu namorado desaparecido mandar notícias enquanto seu visto não expira. De início Lourenço não sabe muito bem o que fazer e em alguns momentos, ganha até contornos sombrios ao nadar em uma praia que é conhecida pela presença de tubarões e praticar sexo sem preservativos. O roteiro do próprio Marco Calvani insere um personagem em um universo atual em que frases do Grindr são usadas em conversas, em que o uso de Prep se tornou indispensável e também em que o desconforto de estar vulnerável em uma relação amorosa pode deixar tudo a perder. Este último ponto refere-se ao seu relacionamento inesperado com o enfermeiro Maurice (James Bland), que está prestes a ir para Angola após passar a vida imaginando não pertencer ao país em que nasceu. Esta sensação de inadequação também é latente no protagonista que mesmo perdido em uma terra estrangeira, não demonstra vontade de voltar para casa e fingir ser alguém em uma vida que não lhe pertence junto à mãe religiosa e o trabalho de contador. Ao lado de Maurice a vida de Lourenço ganha contornos mais interessantes, mas alguns fantasmas do seu passado insistem em atrapalhar. Vale destacar que Pigossi está competente em cena, embora em alguns momentos seu personagem pareça um tanto ingênuo demais, o ator consegue deixar a plateia aflita pelos caminhos que surgem na jornada à deriva do protagonista. Além disso, o ator está bastante desinibido em cenas que deixarão os mais conservadores irritados... Por sua vez, Calvani filma bem, sem pressa e sabe a hora de usar closes muito próximos de seus atores e planos mais abertos para apresentar aquela praia deserta como se fosse um universo paralelo. Interessante notar que o texto atraiu um elenco de apoio bastante interessante, com a oscarizada Marisa Tomei, a premiada Mya Taylor (de Tangerine/2015) e Bryan Batt (famoso por sua participação na série Mad Men). Ainda que o filme não seja inovador em sua proposta, funciona muito bem como carta de apresentação da parceria profissional do casal. Que sejam felizes. 

Maré Alta (High Tide / EUA - 2024) de Marco Calvani com Marco Pigossi, James Bland, Bill Irwin, Mya Taylor, Sean Mahon, Bryan Batt, Todd Flaherty, Karl Gregory, Mark Meeham e Stephen Walker.  

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