Nicole: ainda melhor sem a sombra de Tom Cruise
Antes de ganhar o Oscar por As Horas, Nicole Kidman foi a favorita ao prêmio de melhor atriz pelo papel da cortesã Satine em Moulin Rouge. Para surpresa de muita gente ela acabou perdendo o prêmio para Halle Berry por A Última Ceia. São papéis tão opostos que chega a ser impossível de compará-los. Não quero tirar os méritos de Halle (a primeira atriz negra a ganhar o Oscar de atriz principal) que pelo papel também foi premiada em Berlim, mas o papel de Nicole serviu para mostrar que a ex-esposa de Tom Cruise era capaz de reluzir feito ouro em pó, mostrando que sabia atuar (sem desafinar entre os arcos dramáticos e cômicos de sua personagem), cantar e dançar como uma verdadeira diva da sétima arte. Depois de Moulin Rouge a carreira de Nicole deu uma guinada realmente impressionante. Para começar os musicais estavam indo de mal a pior em Hollywood, as tentativas de ressuscitar o gênero mostravam-se incapazes de atrair o público e o gênero parecia cada vez mais destinado ao passado. O histérico Baz Luhrman parecia ter feito o impossível quando as primeiras críticas positivas apareceram no Festival de Cannes e se propagaram na medida em que o filme foi exibido pelo mundo. Moulin Rouge pode trazer a marca de Baz (o estilo visual que beira o cafona, os cortes rápidos e a linguagem metida à moderninha), mas existe uma mágica nas cenas que talvez nem o próprio diretor saiba explicar. Seria difícil atribuir o sucesso do filme à sua trama, já que é chupada do clássico A Dama das Camélias na maior cara de pau. Afinal, conta a história de um jovem escritor em crise criativa que se apaixona por uma cobiçada cortesã que padece de tuberculose, a diferença é que ela trabalha no badalado Moulin Rouge - onde as profissionais dançam o famoso CanCan sem inibição alguma. Baz teve muita inteligência ao escalar Ewan McGregor para viver o escritor Christian (sempre achei que o cara levava o maior jeito para os musicais desde que vi aquela cena cantada com Cameron Diaz em Por uma vida menos ordinária de Danny Boyle nos idos de 1997) e mais sorte ainda (esta de forma descomunal) em escalar Nicole Kidman para ser a musa do cara, a belíssima Satine. Quando Nicole aparece pendurada naquele trapézio, com a pele pálida de porcelana e os cabelos vermelhos o filme alcança outro patamar. Afinal, sabemos que a partir dali irá começar as confusões amorosas entre a bela Satine e Christian, que ainda serão atasanados por um Duque que quer Satine só para ele. Mas se existe um toque de gênio mesmo no filme é a opção por utilizar canções pop contemporâneas sendo entoadas por personagens que vivem em 1899. Sendo assim, canções de Elton John, David Bowie, The Police, Madonna, Queen, The Who e até Whitney Houston são costuradas entre os diálogos de forma irônica (como Jim Broadbent entoando Like a Virgin) ou com o mais profundo lirismo (Your Song com Ewan McGregor tocava direto nas rádios). Porém, o que mais gosto no filme, é como ele muda de tom conforme a tragédia em torno do romance se anuncia. A edição se torna mais concisa, a fotografia fica soturna, o drama enfim se sobrepõe à atmosfera eufórica do filme. Além do sucesso de público o filme foi indicado à oito categorias no Oscar (incluindo filme,atriz e excluindo a de diretor...) mas levou somente duas para casa (direção de arte e figurino), no Globo de Ouro teve mais sorte ganhando os prêmios de filme comédia/musical e atriz comédia/musical. Muitos anunciaram a volta dos musicais com o filme de Luhrman, mas não lembro de ter visto depois outro tão empolgante quanto esse anacrônico exercício do diretor australiano - nem mesmo Chicago (que acabou levando o Oscar de Melhor Filme no ano seguinte, vá entender).
MOULIN ROUGE (EUA-Austrália/2001) de Baz Luhrman com Nicole Kidman, Ewan McGregor, Jim Broadbent, John Leguizamo, Richard Roxburgh e Kylie Minogue. ☻☻☻
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