Portman e Owen: Coadjuvantes que roubam a cena.
Lembro quando Mais Perto, a premiada peça do dramaturgo Patrick Marber foi montada no Brasil com Renata Sorrah, Marco Ricca, José Mayer e Guta Stresser no elenco arrastando um bando de gente para ver a ciranda amorosa nos palcos. Lembro ainda quando sua versão cinematográfica foi exibida na televisão e uma amiga (que por motivos desconhecidos apenas ouvia o filme) disse que era a maior sacanagem. Bem, ela deveria ver o que Mike Nichols fez com o texto. Em Closer se fala de sexo o tempo inteiro, mas não existe uma única cena do gênero durante o filme. Para compensar, o roteiro amplia o assunto para temas como atração, identidade sexual, depressão, solidão, sedução, divórcio, traição... enfim, assunto é o que não falta nessa visão de Marber sobre as relações contemporâneas. Dan (Jude Law) é um típico homem londrino, meio tímido e reprimido, trabalha num jornal na parte de obituários e sua vida parece finalmente ganhar alguma graça quando ele conhece Alice (Natalie Portman, ganhadora do Globo de Ouro de coadjuvante), uma americana misteriosa e com ares de maluquete que conhece num acidente de trânsito. Dan tem pretensões literárias e se apropria das histórias que Alice lhe conta para escrever um livro chamado O Aquário. O livro é lançado anos depois quando ele conhece Anna (Julia Roberts, num tipo bem diferente das mulheres luminosas que encarna frequentemente), fotógrafa divorciada que conhece ao posar para a capa de seu livro. Dan flerta com Anna, ela o rejeita e Alice percebe que há um clima estranho no ar. Como vingança Dan irá gerar o encontro entre Anna e o dermatologista Larry (Clive Owen, ganhador do Globo de Ouro de coadjuvante). Esses quatro personagens terão seus destinos cruzados por mais alguns anos e surpresas aparecem no caminhar da história de diálogos fortes e bem escritos. O mais curioso da sessão é como Portman e Clive Owen parecem comer o filme pelas beiradas até o momento em que seus personagens explodem ao perceber que seus parceiros vistos de perto são bem menos confiáveis do que pareciam no início. Por suas atuações Owen e Portman colheram merecidas indicações ao Oscar de coadjuvante, mas o mais interessante é notar Julia Roberts dando conta de uma personagem deprimida (massacrada numa cena de tirar o fôlego com Clive Owen) e Jude Law tendo o papel mais feminino da sessão (percebeu como ele convence Larry de que realmente é uma mulher numa sala de bate papo pela internet?). Há quem pense que Closer é um filme sobre intimidade, a forma como a relação próxima pode ser corrosiva para os casais. Eu prefiro imaginar que o filme é sobre a forma como tentamos evitar que as pessoas cheguem próximas ao ponto de nos tocar realmente. Talvez por isso eu ache que o longo diálogo de Alice e Larry na boate de strip-tease seja tão perfeita e simbólica sobre os objetivos do filme. Quando Larry grita "A quem eu tenho que pagar para ter um pouco de contato físico aqui" ele parece reclamar de todas as relações que passaram até então diante da lente astuta de Mike Nichols - que, sem malabarismos, tenta tirar o tom teatral da sessão.
CLOSER - Perto Demais (Closer/EUA-2004) de Mike Nicols com Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman. ☻☻☻☻
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