Dren e seu pai: Relações de uma família muito estranha.
Bem longe desse burburinho de Oscar estreou na semana passada o sci-fi Splice, filme que quando estreou nos EUA em meados de junho chegou a ser cogitado para conseguir uma vaguinha na premiação, mas acabou sendo esquecido e somente agora chegou nos cinemas brasileiros. O mais curioso é que o filme parte de uma ideia interessante mas se perde no final, justamente onde poderia ter mais força e ficar acima da média dos filmes do gênero que saem direto em DVD por aqui. Vincenzo Natali (do sucesso em locações Cubo/1997) demorou dez anos para conseguir tocar o seu projeto mais ambicioso que conta a história de um casal de geneticistas chamado Clive (o ganhador de Oscar Adrien Brody de O Pianista/2002) e Elsa (Sarah Poley que foi indicada ao Oscar pelo roteiro de Longe Dela de 2006) que cria seres estranhos em laboratório para testar medicamentos e demais produtos. Os dois estão prestes a clonar seres humanos, mas uma série de implicações fará com que o projeto do casal não vá para frente. Pelo menos não dentro dos rumos aceitos pelo laboratório em que trabalham. Num acesso de inconformismo Elsa cria um ser humanóide onde mistura características humanas e animais dando origem à Dren (isso mesmo, nerd ao contrário) debaixo dos devidos protestos de Clive. Dren nasce como um ser estranho, sem cabelo, com rabo e ferrão, olhos afastados, língua de réptil, pernas de lagarto e desde o início se torna o segredo do casal. É neste momento que o filme se mostra interessante ao explorar a estranha família que se forma. Elsa começa a tratar Dren como se fosse sua filha enquanto Clive tenta manter distância da criatura que passivamente deixou que fosse construída. Dren cresce rápido e novos dilemas começam a se impor à dupla de cientistas que começam a deixar segredos de suas vidas particulares virem à tona. O mais bacana é que Natali cuida de Dren com mais carinho do que os personagens humanos e fica impossível não se identificar com a tristeza daquele ser que é tratado ora como uma criança, ora com a frieza de um experimento (e a atuação de Delphine Chanéac ajuda muito a acompanhar o que se passa na solidão de Dren). Na verdade o filme de Natali poderia ser uma alegoria sobre o homem querer brincar de Deus e da forma como perde o controle sobre si e suas criações, no entanto, fica muito mais interessante quando investe nas relações de uma estranha família envolvida em questões delicadas como ética e incesto. Infelizmente o problema nasce exatamente daí, quando Dren mostra-se cada vez mais apaixonada pelo seu "pai" o filme poderia tomar rumos mais interessantes do que o reservado pelo roteiro - que apela para soluções apressadas e que contrariam o drama de seus personagens. Curiosamente, Natali não percebeu que seu filme havia avançado de um horror banal para uma ficção científica que poderia fazer bonito nas premiações se não caísse no moralismo mais chulo do gênero. Pelo menos até jogar suas ambições ladeira abaixo, o filme apresenta mais ideias do que a maioria do ano passado.
Splice - A Nova Espécie (Splice/Canadá-França/2010) de Vincenzo Natali com Adrien Brody, Sarah Polley e Delphine Chanéac. ☻☻☻
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