Rush: sensibilidade entre a genialidade e a loucura
O cinema australiano esteve em alta na década de 1990 e entre muitos sucessos de tom cômico (Vem dançar comigo, Priscilla, O Casamento de Muriel...) surgiu um longa de dotes dramáticos impressionantes. Shine - Brilhante do diretor Scott Hicks pode não ser perfeito, mas entrega justamente o que promete ao contar a história do pianista David Helfgott. Filmes sobre pessoas que piram por sua arte são comuns no cinema (basta lembrar do recente Cisne Negro) e além de causar identificação imediata entre os artistas (que lhes dão grande chances no Oscar) também atrai o público comum por dar conta de uma angústia que é muito vicível no ser humano: a busca de se fazer o que gosta da melhor forma possível, sem perceber por muitas vezes os nossos limites. Helfgott foi diagnosticado com esquizofrenia e o filme deixa claro que isso possui relação com sua paixão pelo piano e seus inúmeros treinos para se tornar um exímio pianista. Hicks conta a história desse notável e problemático pianista desde a sua infância contando com um trio de atores muito competentes (Alex Rafalovicz na infância, Noah Taylor na adolescência e Geoffrey Rush na idade adulta) que consegue expressar as angústias do personagem em meio ao seu prazer em tocar piano e a pressão perfeccionista que sente sobre si - esta com colaboração especial do pai autoritário (Armin Mueller-Stahl, indicado ao Oscar de coadjuvante). Nunca vou esquecer do momento em que Helfgott adolescente desaba sobre seu piano diante de uma platéia estupefata (num ótimo momento de Noah Taylor) e depois, num corte temporal incomum, acompanhamos o que o passar do tempo fez com alguém que prometia ser tão genial. Rush era totalmente desconhecido quando levou o Oscar de melhor ator para casa - no ano que a premiação ficou conhecida por celebrar os filmes independentes. Na atuação, Rush consegue misturar com maestria a genialidade e a esquizofrenia de seu personagem com uma sensibilidade notável de modo que é impossível não se identificar com ele. Hicks conduz a narrativa com ritmo irregular, alterando cortes bruscos na narrativa com momentos quase arrastados, sorte que encontrou um elenco capaz de prender nossa atenção. Aclamado como gênio na época, Hicks nunca mais fez um filme tão relevante e elogiado (o que só confirma que o grande mérito do longa seja a força de sua história verídica na atuação de um elenco espetacular que vale cada minuto do espectador).
Shine - Brilhante (Shine - Austrália/1996) de Scott Hicks com Geofrey Rush, Armin Muller-Stahl, Noah Taylor e Lynn Redgrave. ☻☻☻
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