Rahim em cena da missão mais inacreditável de Malik.
O Profeta dividiu as atenções com A Fita Branca de Michael Haneke em sua primeira exibição em Cannes2009 e desde então se sabia que os dois iriam medir forças entre os indicados ao Oscar de filme estrangeiro. Se o filme de Haneke aposta numa violência mais sutil, o filme do francês Jacques Audiard é bem mais explícito com cenas que beiram o inacreditável - tanto que o filme recebeu por aqui a censura de 18 anos. No entanto, trata-se de um filme que merece ser visto apesar de alguns excessos. Em sua mais de duas horas e meia de projeção, o filme acompanha o jovem Malik (o ótimo Tahar Rahim, eleito o melhor ator europeu de 2009 pelo filme) de dezenove anos e sem passado. Não possui familiares ou amigos, aos poucos sabemos que não sabe ler nem escrever, cresceu num reformatório. Além disso é preso por um motivo que desconhecemos e tem como pertences somente um zíper, um cigarro e uma cédula de cinco euros (além de várias cicatrizes). Por seus traços é identificado como muçulmano, mas isso não quer dizer muita coisa para alguém que estava acostumado a viver como se não existisse. Malik não cria laços sociais ou afetivos na prisão, até que um novo presidiário o assedia. O fato poderia passar em branco se os membros da máfia dos corsos que dominam os detentos não precisasse que este assediador fosse morto. Essa missão cai nas mãos de Malik, que se não executar o serviço será morto. Este é o primeiro passo para que o jovem se torne uma espécie de capacho dos corsos em troca de proteção. Em seus três anos de pena, o rapaz bem comportado e apático irá se revelar uma verdadeira esponja perante o ambiente que o cerca. Malik é observador e paciente o suficiente para aprender a hora certa para mover as peças necessárias para sair da prisão numa posição completamente diferente da que entrou, assim, acaba utilizando as informações que recebe na prisão para se tornar um traficante. Isso não irá agradar seu protetor (Niels Arestrup), já que este conta com o dia de liberdade por ano (ao qual Malik tem direito) para fazer serviços sujos. Audiard utiliza tantos recursos em sua narrativa que o que poderia ser mais um filme de prisão se transforma numa espécie de hipnose. Apesar de um pouco mais longo do que deveria, o diretor sabe exatamente onde colocar os momentos de tirar o fôlego (como as missões impossíveis dos dias de "liberdade" de Malik) e nos faz até capazes de simpatizar com o nascimento de um poderoso traficante entre os muros de uma penitenciária.
O Profeta (Un Prophéte/EUA-2009) de Jacques Audiard com Tahar Rahim, Niels Arestrup e Adel Bencherif. ☻☻☻☻☻
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