Ben e Jeremy: precisão oposta.
Fiquei tão desconfiado com todos os elogios do novo filme de Ben Affleck na direção que preferi nem vê-lo. Vi todas aquelas expectativas para prêmios ganharem forma, ouvi todas as reclamações quando todas as expectativas se converteram somente na indicação de Jeremy Renner na categoria de coadjuvante no Oscar. Enfim, o filme passou em branco nas premiações mas tem um grupo de seguidores fiéis. Chegando em DVD devo admitir que o filme é realmente competente. De fato é impressionante como Ben Affleck se defende muito melhor atrás da câmera do que diante dela (basta lembrar que o cara tem um Oscar na estante pelo roteiro do supervalorizado Gênio Indomável/1997 - que não é nenhuma Brastemp, mas que colocou ele e o parceiro Matt Damon no mapa hollywoodiano), depois de sua estreia promissora com Medo da Verdade (2007), ele se aprimorou na condução de uma trama densa e que não perde de vista o desenvolvimento dos personagens. Prova de que é um bom diretor é que seus atores costumam ser lembrados nas premiações da temporada de ouro. Se em Medo da Verdade foi Amy Ryan que roubou a cena, desta vez, Renner também não fez feio e as premiações deixaram espaço até espaço para o finado Pete Posthlewaite (que em menos de dez minutos em cena foi lembrado no BAFTA). Como ninguém é perfeito, o Affleck protagonista continua demonstrando suas limitações. No entanto, essa característica até que cai bem ao interpretar o papel de ex-viciado em drogas decepcionado com os rumos da vida e relações. Affleck é o cérebro de um grupo de ladrões de banco - o grupo ainda conta com seu amigo (Renner) que tem grande tendência para perder o controle -, mas o personagem acaba se apaixonando, meio que involuntariamente, pela gerente de uma agência assaltada (a charmosa Rebecca Hall). Affleck desenvolve o relacionamento entre o casal sem pressa, deixando que um revele ao outro que possuem mais coisas em comum do que poderiam imaginar - mas, enquanto isso, prepara a trama para as decisões que terão que tomar rumo ao último ato. Obviamente que sabemos como tudo vai terminar, mas o roteiro (assinado por Affleck, Peter Craig e Aaron Stockhard baseado no livro de Chuck Hogan) se empenha em lidar com as soluções de forma coerente e sem cair no ridículo, sem perder o tom seco impressa pelo diretor. Se o protagonista por vezes parece um cubo de gelo a coisa funciona de forma equilibrada quando tememos cada vez que o personagem de Renner aparece na tela, o cara parece um vulcão prestes a explodir em sua fúria que vem não se sabe de onde. Affleck, o diretor, foi esperto o suficiente para saber que para dar conta de um filme desses precisava de um elenco de primeira e se cercou de atores competentes, capazes de gerar tensão com um olhar, um gesto e conseguir segurar uma narrativa sem frescuras até o fim. Ele demonstra até segurança ao escalar Rebecca (que não é exatamente bela, mas sabe exatamente o que deve ser feito no papel de mocinha) para ser o seu par romântica. Outro destaque é a forma com que Affleck lida mais uma vez com sua cidade natal, a cinzenta Boston é apresentada novamente como um personagem do filme, especialmente o bairro de CharlesTown, que parece ter forte influência sobre seus personagens. Sem ser ofensivo, o amigo de Matt Damon faz mais uma vez uma ode à sua terra e se continuar assim, fará por ela o que Scorsese fez por Nova York. Curiosamente é que depois de bancar o galã de blockbusters meia-boca, Ben se sinta tão a vontade ao lidar conduzir um filme desses que bebe diretamente na fonte de filmes policiais da década de 1970 como os que fizeram a glória de Scorsese e Sidney Lumet. Não estranharei se futuramente o cara se dedicar somente à direção e por esta função ganhar outro careca dourado.
Atração Perigosa (The Town/EUA-2010) de Ben Affleck, com Ben Affleck, Jeremy Renner, Rebecca Hall, Pete Postlewaite, Chris Cooper e Blake Lively. ☻☻☻☻
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