Franco: Sozinho em sua caverna interior.
Queria saber quem teve a ideia de colocar James Franco para apresentar o Oscar. A coisa me pareceu um grande tiro no pé. Franco é um ator que vem crescendo a cada filme, mas a partir daí considerar que ele daria uma animada na cerimonia deste ano é um exagero. Sem falar que o convite foi quase uma prévia de que o rapaz não levaria o Oscar para casa por sua atuação impressionante no novo filme de Danny Boyle. Em 127 Horas, Franco é Aaron Ralston, um cara que gosta de curtir aventuras e a carga de adrealina nas veias quando se mete a enfrentar perigos naturais. Aaron é tão seguro de si que nem carrega celular ou comenta com a família e colegas para onde vai. Este talvez seja o seu maior erro. Em 2003, Aaron foi desvendar as belezas de um Blue John Canyon, um cânion isolado no estado de Utah. Entre lagos subterrâneos, fissuras inexploradas e outras belezas naturais acabou tendo o braço preso debaixo de uma rocha. Aaron viverá um pesadelo onde terá que se contentar em poupar a água de sua garrafa (até ter que beber a própria urina) e remoer suas lembranças. Bastou o filme começar a ser produzido para que todo mundo lembrasse a história do verdadeiro Ralston e seu desfecho brutal, portanto, desde a primeira cena sabemos exatamente como o cara vai sair dali. James Franco tem a tarefa hercúlea de nos conduzir nessa jornada claustrofóbica e angustiante de um homem que se tornou vítima por suas próprias opções (incluindo a muralha construída ao seu redor. Aspecto que acabou rendendo o fim do seu namoro promissor). Aaron teve pouco mais de cinco dias para repensar os rumos de sua vida e se ela merecia continuar. Ralston tenta de tudo para sair daquele lugar, mas suas táticas foram frustradas - especialmente com o uso de um canivete vagabundo que demoraria milênios para ferir a superfície da rocha para libertá-lo - e se mostraria ainda menos eficiente para cortar-lhe o braço (o que ele acaba fazendo). Danny Boyle após os prêmios de Quem quer ser um Milionário (2008) mostra mais uma vez que sabe contar uma história cheia de malabarismos narrativos - o que serve para manter a atenção do público diante de um filme que possui a maior parte do tempo um único cenário e um único ator. Além de mostrar suas habilidades, especialmente nos delírios de Aaron (como a tempestade ou a hora em que simula um programa de entrevistas), Boyle sabe trabalhar com contrastes. O início barulhento do filme caminha cada vez mais para o silêncio solitário daquela fissura em que o personagem fica aprisionado até alcançar a histeria da mutilação pela sobrevivência. Porém, apesar de todos os malabarismos visuais e sonoros do diretor, a alma do filme é atuação de James Franco (vencedor do Independent Spirit pelo papel). Sua interpretação traz tantas camadas para o personagem que é quase impossível lembrar que estamos diante de uma atuação. Se Boyle houvesse finalmente optado por contar uma história de forma convencional não teria feito a mínima diferença no resultado.
127 Horas (127 Hours/EUA-2009) de Danny Boyle com James Franco, Kate Mara e Amber Tamblyn ☻☻☻☻
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