Soledad e Darín: sobrevivendo a 25 anos de nada.
Apesar de todos os elogios e prêmios de A Fita Branca e O Profeta, o Oscar de filme estrangeiro em 2010 foi para o argentino O Segredo dos Seus Olhos. Lembro que na época imaginei que os brasileiros poderiam aprender com os hermanos a escolher melhor seus concorrentes - mas depois que indicaram o filme do Lula cheguei à conclusão que os brasileiros não desistem nunca. O grande diferencial do filme de Juan Jose Campanella (antes indicado ao prêmio por O Filho da Noiva/2001) é que não tem medo de ser menos solene. Ricardo Darín interpreta Benjamin Espósito, um aposentado que trabalhou a vida toda num tribunal penal e agora tenta escrever o seu primeiro romance baseado nas lembranças de um caso que ainda o instiga. No ano de 1974 uma jovem professora é violentada e morta, e Espósito chega ao suspeito por conta de fotografias onde um determinado homem observava a vítima com cobiça. Essa suspeita que beira o surreal é o que guia parte da narrativa. A outra parte fica por conta do personagem querer ajustar contas com o seu próprio passado depois de "25 anos de nada". Campanella conduz o suspense com grande competência numa trama policial que flerta com os clássicos noir, mas é esperto o suficiente para ampliar a trama de seu filme para uma história de um homem que quer passar sua história a limpo. Nesta história ainda existem três outros personagens importantes. Uma é sua superior Irene (interpretada com maestria por Soledad Villamil), o amigo beberrão Sandoval (o ótimo Guillermo Francella) e o jovem viúvo (Pablo Rago) que se tornam construtores não apenas da jornada policial em que o filme mergulha como também das culpas e frustrações de Espósito. É impressionante como Campanella filma bem (talvez tenha aprimorado ainda mais sua técnica ao dirigir episódios de seriados americanos como Law & Order, onde um arco narrativo deve sustentar o outro até o fim da temporada). A cena de perseguição no estádio é brilhante, assim como a despedida na estação no trem e a cena da declaração de Irene ao final onde a pausa dramática é interrompida por um comentário inusitado (e por isso mesmo muito sincero). Além desses momentos ainda tem o final surpreendente - que deve ter contado muitos pontos entre os votantes da Academia que o consideraram o melhor filme em língua estrangeira de 2009. Realmente foi merecido. A fotografia do filme é belíssima, a reconstituição de época é competente, o roteiro tem uma construção minuciosa e a edição é um primor de coerência e ritmo. Além de todos esses predicados, o diretor contou com um elenco de primeira para defender um roteiro que poderia descambar facilmente para o sensacionalismo (já que a trama até arranha o espinhoso passado político da Argentina). Além de Ricardo Darín (ator fetiche de Campanella) e do comediante Francella, fiquei realmente impressionado com o trabalho da atriz Soledad Villamil - seu trabalho gestual e vocal para transmitir a passagem do tempo em sua personagem é impressionante. Ela é a personificação perfeita de como a segurança que a passagem do tempo pode proporcionar é o melhor remédio para resolver algumas pendengas.
O Segredo dos Seus Olhos (El secreto de sus ojos/Argentina - 2009) de Juan Carlos Campanella com Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago e Guillermo Francella. ☻☻☻☻
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