sexta-feira, 11 de março de 2011

Catálogo: Sombras de Goya


Portman e Bardem: Filme triste para tarde chuvosa.

Sombras de Goya é o filme mais recente de Milos Forman, que em seus últimos longas tem se dedicado a contar histórias de personagens controversos. Porém, ao contrário de O Povo Contra Larry Flynt (1996) e O Mundo de Andy (1999), Sombras passou quase em branco nos cinemas e talvez agora chame até um pouco mais de atenção nas locadoras por contar com dois atores consagrados nas últimas premiações, trata-se de Natalie Portman e Javier Bardem. Ela recentemente oscarizada por Cisne Negro e ele indicado por sua atuação em Biutiful foram importantes para que eu visse o filme numa dessas tardes chuvosas de carnaval. O filme ainda conta com outro ator que gosto muito, o dinamarquês Stellan Skarsgard (um dos favoritos de Lars Von Trier) que (por semelhança física) foi escolhido para interpretar o pintor espanhol do título. Forman utiliza a fama do pintor de forma quase maldosa no título, já que o personagem quase não aparece e nem possui uma ação de grande destaque no filme. Tudo gira em torno de Inés (Portman) uma das musas do pintor, que emprestou seu rosto para inúmeros quadros, inclusive para expressões angelicais pintadas por Goya. O problema é que a trama se passa nos primeiros anos do século XIX e a Inquisição promovida pela Igreja Católica estava a todo vapor. Por ser vista rejeitando comer carne de porco numa pensão, Inés é acusada de judaísmo (?!) e torturada até que admitisse que era realmente adepta da religião judaica. A história dessa jovem  irá se misturar com a de Padre Lourenço (Javier Bardem) que acredita nas práticas da igreja até conhecer a família de Inês e será forçado a cooperar para libertação da moça. Acho que se eu contar mais estraga, mas desde que Lorenço coloca os olhos no primeiro quadro com o rosto de Inés sabemos o que acontecerá. E depois que se passar quinze anos na narrativa continuamos sabendo o que vai acontecer quando Lourenço reaparecer como adepto da tropa de Napoleão. Pois é, o grande problema do filme é que torna-se cada vez mais previsível rumo ao seu final. Forman (que assina o roteiro ao lado do bamba Jean Claude Carrière) sabia que tinha uma boa história nas mãos, mas não parece se esforçar para contá-la com originalidade ou energia, deixando muitas vezes as cenas descambarem para o dramalhão. Apesar de ter firmeza na condução de cenas desagradáveis, Forman comete alguns tropeços imperdoáveis pelo caminho. Afinal, como aquele sujeito que pinta gravuras que incomodam a igreja pode ser tão passivo como o Goya que acompanha as brutalidades de seu tempo ficando em cima do muro? Num papel assim, Skarsgard aparece desperdiçado sorrindo para todo mundo na primeira metade da sessão. O que seria o momento de transformação do personagem se transforma num salto de quinze anos na narrativa. Quando o reencontramos ele está surdo e com ressentimentos que recebem pouco destaque na trama. Sendo o astro espanho do filme, Javier faz o que pode atuando pausadamente em inglês, mas seu personagem poderia explorar mais sua essência de estar sempre do lado que manda por pura sobrevivência. Salva-se Natalie numa atuação triste de uma bela jovem torturada e que após quinze anos em isolamento tenta adequar-se a um mundo que por si só não faz o mínimo sentido. Trata-se de um filme deprimente, com uma História interessante, mas que não souberam contar.

Sombras de Goya (Goya's Ghosts/Espanha - 2006) de Milos Forman com Javier Bardem, Natalie Portman e Stellan Skarsgard. ☻☻

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