Ryan, Casey e Michelle: dando força à estreia de Affleck
Quando Ben Affleck dirigiu seu primeiro longa metragem sua carreira estava mais claudicante do que nunca. Fazia dez anos que recebera o Oscar pelo roteiro original de Gênio Indomável (1997) e sua carreira alternava alguns filmes que buscavam lhe dar crédito como ator (especialmente Fora de Controle/2002 e Hollywoodland/2006 que o premiou em Veneza) com Blockbusters que só serviram para ridicularizá-lo (como Armageddon/1998 e o gorila Gigli/2003 com J.Lo). O cara precisava se reinventar. Seus excessos com drogas e álcool já estavam cansando quando ele resolveu colocar a vida nos eixos ao se casar com Jennifer Garner (que conheceu nos sets de Demolidor/2003 - outro fiasco). Affleck encontrou refúgio na obra de Dennis Lehane, mais precisamente em Gone Baby, Gone e este fato revela mais do que pode parecer. Na época outra obra de Lehane havia chegado às telas e ficado na memória dos cinéfilos, tratava-se de Sobre Meninos e Lobos (2003), dirigido por outro ator que ganhou cada vez mais prestígio atrás das câmeras: Clint Eastwood. Clint parece ser a principal referência do filme, que mais uma vez conta com o foco favorito da obra do escritor: o cuidado que a criança não tem em nossa sociedade. Vendo as atrocidades nos noticiários notamos cada vez mais como as crianças são negligenciadas no mundo inteiro. Affleck escolheu uma trama ambientada em sua cidade natal (Boston) para contar a história de uma garotinha que desaparece sem deixar pistas após a mãe (Amy Ryan) deixá-la sozinha em casa. Você já deve ter visto outros filmes assim, mas acredite o filme melhora no ponto onde a maioria deles termina. Desde o início da trama, Affleck mostra que está diposto a ser o mais seco possível em sua narrativa, nos apresentando os personagens sem frescura - especialmente o casal de detetives que protagoniza o filme. Patrick Kenzie (Casey Affleck, irmão de Ben) e Angela Gennaro(Michelle Monaghan) são os encarregados de descobrir o paradeiro da pequena Amanda. Mas as coisas não são tão simples quanto parecem. Aos poucos uma série de segredos vão se revelando e o envolvimento da mãe da menininha com drogas e o mundo marginal apontam para um caso cheio de nuances obscuras. Até a metade do filme, Affleck parece conduzir um filme que mais parece um ensaio para o que está por vir, já que é da metade em diante que a coisa ganha novas cores e se torna cada vez mais atraente até o dilema ético arrebatador de seu desfecho. Affleck conduz com competência o filme que possui ainda muitos ranços do cinema independente (o roteiro às vezes tropeça, os cenários são feios e todos os personagens são problemáticos) de forma que o forte mesmo são as atuações. O mano Casey (que no mesmo ano foi indicado a vários prêmios por roubar a cena de Brad Pitt no quilométrico O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford) e Monaghan se saem bem entre as diferenças de seus personagens, mas quem vale o filme mesmo é Amy Ryan no papel da mãe problemática da menininha. A loura indicada ao Oscar não deixa espaço nem para Morgan Freeman em nossa memória quando a sessão termina numa cena memorável. O interessante é que apesar de todos os predicados, a estreia de Ben na direção foi direto para o DVD por aqui, enquanto seus piores filmes como ator tiveram espaço em nossos cinemas.
Medo da Verdade (Gone Baby, Gone/EUA-2007) de Ben Affleck com Casey Affleck, Michelle Monaghan, Amy Ryan, Morgan Freeman e Ed Harris. ☻☻☻
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