Robin, James, Xavier e Naomi: mar de açúcar.
Não há dúvidas de que Naomi Watts e Robin Wright são ótimas atrizes, por isso mesmo são capazes de fazer a diferença numa produção como Amor Sem Pecado. Apesar de ter causado algum estardalhaço no exterior, o filme foi pouco visto nos cinemas e não conseguiu espaço nas telas brasileiras. Acredito que o motivo para isso não seja a polêmica dos romances intergeracionais abordados pelo roteiro e sim, a direção um tanto frouxa da francesa Anne Fontaine. O roteiro é assinado pela própria diretora e o renomado Christopher Hampton (do clássico As Ligações Perigosas/1988), pena que o texto tende a açucarar demais a história e perde a oportunidade de nos fazer refletir sobre um tema que ainda parece tabu: o romance entre jovens rapazes com mulheres maduras. A verdade é que existem vários filmes onde o protagonista mais velho namoram mulheres mais jovens, mas o contrário não acontece com frequência. É verdade que se levarmos em conta a aparência de Naomi (46 anos) e Robin (48), nem iremos imaginar que já possuem idade para serem as avós do título do livro de Doris Lessing em que a produção se baseia. Em meio às paisagens paradisíacas do litoral australiano conhecemos as meninas Lil e Roz. As duas crescem amigas e a proximidade permanece quando Lil (Naomi Watts) e Roz (Robin Wright) enfrentam a vida adulta com os desafios do casamento e de criar os filhos. A proximidade das duas amigas afeta diretamente a relação entre seus filhos, respectivamente Ian (Xavier Samuel) e Tom (James Frecheville) que também são grandes amigos. Lil teve que criar o filho praticamente sozinha depois que ficou viúva e Roz vive um casamento que já caiu na rotina. O filme tenta mostrar a proximidade entre os quatro personagens de forma espontânea, mas parece um tanto forçada em sua trivialidade artificial. Por conta disso, fica a impressão que aquele universo praiano é isolado do resto do mundo e, qualquer personagem que aparece por ali que não sejam as duas e seus filhos, são intrusos - incluindo Harold (Ben Mendelsohn) esposo de Roz. Sendo assim, é fácil imaginar que com a escassez de companhia, as duas mulheres irão ceder aos encantos dos filhos uma da outra. No entanto, enquanto Ian cai no amor proibido por Roz, as investidas de Tom sobre a mãe do amigo sempre parecem ter gosto de revanche. A temática que poderia ser bombástica e repleta de cenas tórridas, prefere investir nos dilemas desencadeados pela relação de ambos os casais. A ideia seria ótima, se não deixasse a impressão que não aprofunda as situações como deveria. A solidão de Lil que a faz se apegar ao rapaz mais jovem como se fosse sua última chance de ser feliz, ou a necessidade (um tanto infantil) de Roz criar uma simetria entre as duplas é explorada com tanta naturalidade que o filme perde bastante a sua força narrativa. Talvez seja esse o maior problema do filme: ao naturalizar demais a situação, perde a oportunidade de enfatizar o que tem de mais instigante e original aos olhos do espectador, desperdiçando a chance de criar um filme mais interessante. Ao final da sessão, tem se a impressão que os personagens ficam à deriva no mar dos sentimentos que sentem um pelo outro, o problema é que esse mar tem gosto de água com açúcar.
Amor Sem Pecado (Perfect Mothers/Austrália-França/2013) de Anne Fontaine com Naomi Watts, Robin Wright, Xavier Samuel, James Frecheville e Ben Mendelsohn. ☻☻
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