As irmãs Lisbon: desejo silenciado.
Antes de estrear como cineasta em As Virgens Suicidas, Sofia Coppola era lembrada como a filha do celebrado Francis Ford Coppola e sua participação equivocada em O Poderoso Chefão III (1990). Na época, Sofia tinha pouca experiência como atriz (conquistada em pequenas participações na telona) e receber um papel de detaque na conclusão da saga escrita pelo seu pai foi um desastre. Espinafrada pela crítica, detestada pelo público, Sofia se afastou dos holofotes. Seguiu a vida tentando encontrar seu caminho no mundo da moda, até que ao final dos anos 1990 descobriu que tinha algo a dizer. Em 1999 lançou seu primeiro longa metragem no Festival de Cannes e foi considerada uma revelação. Depois de elogios em Cannes e indicações a alguns prêmios, notou-se que Sofia estabelecia uma conexão interessante com os jovens, tanto que ganhou um prêmio no MTV Movie Awards de melhor diretor estreante. Baseado no livro do recluso Jeffrey Eugenides, As Virgens Suicidas já possui um título que remete aos sacrifícios de antigas civilizações - o que evoca uma forte simbologia antes que assistamos ao filme. Filhas de Ronald Lisbon (James Woods) e Srª Lisbon (Kathleen Turner), Lux (Kirsten Dunst), Mary (A.J. Cook), Cecilia (Hanna Hall), Therese (Leslie Hayman) e Bonnie (Chelse Swain) são admiradas por quatro meninos adolescentes com verdadeira devoção. O ritmo lento e a bela fotografia criam uma atmosfera de sonho para as personagens (com o auxílio da bela trilha do duo francês Air), as garotas surgem como anjos perante os temores da fase em que os hormônios começam a dar o ar da graça - e trazer a intensidade adolescente para todos os poros. Nesse ponto, a sexualidade surge como um fantasma para o casal Lisbon. O excesso de cuidado do casal com as filhas cria, aos poucos, uma atmosfera sufocante para as meninas e, o reflexo disso é a tentativa de suicídio da caçula, Cecilia, que alcança seu objetivo na segunda oportunidade. A morte destroça a família, mas aumenta a obsessão por controle na casa dos Lisbon. Quase proibidas de ter vida social e contato com rapazes, os efeitos colaterais da educação ultraconservadora destaca Kirsten Dunst na pele de Lux, a filha mais provocante da família. Luxúria, assim como suas irmãs, estão fortemente atraídas pelo recém chegado Trip Fontaine (Josh Hartnett) e a perda da virgindade ganha corpo no imaginário coletivo do filme. Sofia já apresenta aqui seu olhar delicado sobre as personagens, a preocupação com os detalhes, os olhares e silêncios que preenchem a narrativa de intenções que palavras talvez não conseguem expressar em suas sutilezas. No entanto, a opção de um olhar distanciado através dos meninos (que conta ainda com o primo-Coppola Robert Schwartzman e Johnatan Tucker) evita que os dilemas das meninas sejam expostos de forma mais pessoal, torna-se uma espécie de olhar do espectador para espectador. No entanto, não deixa de ser interessante que mesmo belo visualmente, o filme causa estranhamento em sua tranquilidade interiorana perante uma tragédia iminente. Há de se destacar ainda a humanização do casal Lisbon, que não parecem figuras de um filme de terror, mas pais, como tantos outros, que querem cuidar dos filhos sem medir as consequências do controle exagerado sobre a vida de seus rebentos, uma tentativa inútil de evitar que descubram a vida com seus próprios olhos... daí surge a ironia do texto, já que perante o título o objetivo é até cumprido - mas por uma via colateral devastadora.
As Virgens Suicidas (EUA-1999) de Sofia Coppola com Kirsten Dunst, James Woods, Kathleen Turner, James Woods e Josh Hartnett. ☻☻☻☻
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