Daniel e Essie: horror psicológico de primeira.
Ainda que seu trailer tenha gerado uma espécie de culto na internet, o terror australiano The Babadook ainda aguarda espaço para chegar aos nossos cinemas. O filme escrito e dirigido por Jennifer Kent conta a história de uma mãe (Essie Davis) e seu filho hiperativo (Noah Wiseman) que ainda tentam superar a morte do patriarca da família. Não bastasse essa ferida, é cada vez mais visível o esgotamento da mãe com o comportamento do menino. Apesar de toda boa vontade do mundo, existem momentos em que ela não faz a mínima ideia do que fazer. A situação piora consideravelmente quando ela encontra um livro infantil bizarro que conta a história de um personagem chamado Babadook que bate na porta antes de entrar e atormentar quem estiver na casa que visita. O livro de imagens sinistras aparece sem maiores explicações, ao mesmo tempo que aterroriza a mulher que não considera a obra apropriada para o filho, assim como percebe ali um pouco do seu esgotamento físico e psicológico. É disso que nasce a melhor parte do filme, já que o Babadook aprofunda os tormentos da mãe que pretende ser exemplar e tomar as rédeas de sua vida, mas que percebe naquele livro misterioso as consequências a que sua dura rotina poderá levar. Esqueça os personagens secundários que abandonam os dois protagonistas e concentre-se no jogo psicológico que a cineasta traça a partir das poucas peças de sua narrativa. Apesar dos truques cênicos utilizados, o que funciona melhor é o pavor que Essie tem do reflexo de si mesma que o livro pode deflagrar - auxiliada magistralmente pela figura esquisita do persnonagem. A saga do Bicho Papão se funde perfeitamente com a atuação de Essie Davis perante os medos de sua personagem. O mais interessante é que Jennifer Kent não tem medo de mergulhar no estranhamento que sua história pode apresentar, perdendo as estribeiras no terceiro ato, quando o que parecia ser apenas terror psicológico se materializa para flertar com o que há de mais trash na concepção do "livro assombrado capaz de libertar um espírito do mal". Do horror classudo que remete aos clássicos do horror da década de 1970, o filme caminha para uma espécie de monstro de estimação sem perder a sinistrice de sua história. The Babadook pode perder parte do seu brilhantismo em sua segunda metade, mas ainda consegue ser mais arrepiante do que os jorros de sangue que vemos associados ao gênero. No entanto, vale destacar que seu maior trunfo é a atuação da pouco conhecida Essie Davis, que dá corpo e expressões consistentes para os temores de sua personagem.
The Babadook (Austrália/2014) de Jennifer Kent com Essie Davis, Noah Wiseman, Daniel Henshall e Bridget Walters. ☻☻☻
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