Oscar e Elizabeth: de amantes a cúmplices.
Baseado no romance Thérese Raquin (1867) de Émile Zola, o ator Charlie Stratton estreia na direção criando um filme interessante, ainda que os literatos considerem que a versão da obra considerada o marco inaugural do naturalismo literário merecesse mais profundidade. Talvez por não ler o livro, achei que o longa alcança um bom resultado em sua atmosfera de romance para os desiludidos. Stratton foi esperto também na escolha de seu elenco, escalou a veterana Jessica Lange para um papel complicado, um casal de atores que ainda não receberam o reconhecimento que merecem (Elizabeth Olsen e Oscar Isaac) e rostos conhecidos como eficientes coadjuvantes (Tom Felton e Shirley Henderson). Na história Thérese é deixada ainda criança na casa de uma tia (Lange) que gasta o tempo cuidando do filho doente, Camille. A menina cresce aguardando o pai voltar, mas ela logo percebe que isso nunca acontecerá. Já crescida (e na pele de Olsen), sua sexualidade começa a despertar enquanto ajuda a tia a cuidar do primo adoentado (Tom Felton, o Draco Malfoy de Harry Potter que virou um rapaz esquisito). O roteiro até sugere algumas investidas da moça sobre o rapaz, mas ele nunca corresponde. Como vive no século XIX, a garota sem posses acaba noiva do primo e casa-se com ele para satisfazer a vontade da tia. Quando o jovem marido consegue um emprego em Paris, o trio se muda para a cidade e o filme torna-se ainda mais sombrio, como se a cidade simplesmente não deixasse a luz entrar na vida dos personagens. Na cidade, Camille reencontra um velho amigo, Laurent (Oscar Isaac) pintor que percebe a insatisfação de Thérese com o marido e não vai demorar para que ela descubra os prazeres da carne com o tal amigo. Os dois vivem um romance tórrido e um acidente irá mudar para sempre o rumo dos personagens. Stratton acerta no tom sombrio e na atmosfera sufocante a que submete o casal de amantes, o desejo torna-se culpa e o rumo dos acontecimentos só piora o relacionamento do casal fogoso que aos poucos reduz-se a cúmplices. Para aumentar a dramaticidade, a presença de Jessica Lange como a sogra (com potencial de megera) que começa a juntar as peças e entender o que aconteceu aumenta o suspense da história. Imagino as toneladas de escrita que Zola utilizou para desenhar o interior dos seus personagens e que ficou de fora do roteiro, mas em termos de narrativa, Em Segredo consegue ser bastante correto com pequenos toques que só aumentam o horror da história (como o quadro de Camille, os pesadelos...) até o seu final trágico e inevitável. Trata-se de uma produção que merece ser conhecida, ainda que tenha recebido pouca atenção nos cinemas americanos.
Em Segredo (In Secret/EUA-2013) de Charlie Stratton com Elizabeth Olsen, Jessica Lange, Oscar Isaac, Tom Felton, Shirley Henderson e Matt Lucas. ☻☻☻
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