Naomi e Dillon: no labirinto sem saída da pobreza?
A cineasta Laurie Collyer gosta de voltar sua lente para o tipo de americano que não costuma aparecer na telona: o branco pobre (o que os sobrinhos do Tio Sam costumam chamar ofensivamente de white trash). O interesse da diretora é algo tão raro que seus trabalhos passam longe dos cinemas brasileiros. Foi assim com Sherrybaby/2006 (com Maggie Gyllenhaal indicada ao Globo de Ouro) e Sunlight Jr. que aqui recebeu o nome de Marcas da Vida. Acho que o título original injeta um pouco de poesia numa trama que tem o peso do nome em português. Naomi Watts interpreta Melissa e Matt Dillon é Richie, ambos moram juntos e enfrentam as dificuldades de ter pouco dinheiro. Ela trabalha num mercado e enfrenta o assédio do gerente, além das visitas inconvenientes de um ex-namorado metido com tráfico de drogas (Norman Reedus). Richie vive preso à uma cadeira de rodas, desempregado, recebe dinheiro do governo. As dificuldades financeiras aparecem em vários momentos do filme e ainda ganham realce com o universo familiar que possuem. Richie tem uma família que aparece em apenas uma cena para mostrar o quanto são sem perspectiva, já Melissa tem uma mãe (Tess Harper) que vive com o novo marido e um bando de crianças (que não tem a origem explicada). Diante de tantas dificuldades, Melissa e Richie se amam e ficam felizes quando ela descobre que está grávida. No entanto, mais acontecimentos irão aparecer para que o espectador se pergunte se vale a pena trazer uma criança para viver em condições tão incertas de vida. Vale dizer que existe um certo exagero no texto de Laurie Collyer já que nada funciona na vida do casal. Melissa quer horas extras? O gerente a coloca para trabalhar de madrugada! Richie entende de eletrônica? Então ele sabe concertar videocassetes! Ela está grávida? Então ela terá um susto durante a gestação! Sei que a vida dos personagens não é fácil, mas do jeito que a diretora mostra a pobreza parece um grande labirinto sem saída. Não há esperanças (ou luz do sol, como anuncia o título original), afagos ou algo que possa ser feito par mudar a vida dos personagens, estão presos às marcas de uma vida que não foi fácil e nunca será. Com um roteiro esquemático e determinista (Richie nunca arranja emprego e Melissa nunca tem resposta sobre tal bolsa para faculdade que espera), com tantas mazelas nem precisamos chegar o final do filme para saber como tudo termina. Cenários sujos e luz precária dão a cara de filme de sarjeta - que não funciona melhor pelo excesso de drama na vida dos personagens (defendidos com bastante coerência por Naomi e Matt). Laurie não precisava fazer tudo desabar sob a cabeça dos seus personagens para que possamos nos comover com a história deles, a dimensão humana da história já está lá desde o início. Limpando os excessos, o filme poderia ser mais interessante (e natural) no dilema que pretende explorar.
Marcas da Vida (Sunlight Jr./EUA-2013) de Laurie Collyer com Naomi Watts, Matt Damon, Tess Harper, Norman Reedus e William Haze. ☻☻
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