A Gangue: a vida como um reality show!
Quem acompanha a carreira cinematográfica de Sofia Coppola já conhece bem as obsessões da diretora. Além de ter grande atração por personagens desconectados com o ambiente que os cercam, a diretora consegue imprimir em seus filmes um visual pop de plasticidade bastante peculiar. Embora pareça cada vez mais distante de seu cultuado Encontros e Desencontros/2003 (filme que lhe rendeu o Oscar de roteiro original e o posto de primeira mulher americana indicada ao Oscar de direção), Sofia tem bastante personalidade na criação de seus filmes, construindo uma espécie de universo paralelo que se revela aos poucos. Não vou entrar no mérito de que esse universo é bem menos genial do que seus fãs percebem, mas não deixa de trazer um olhar curioso sobre o que tendemos a naturalizar. Inspirado em uma história real, Bling Ring alterou o nome dos personagens para evitar maiores polêmicas, já que todos os envolvidos eram menores de idade e ficaram bastante conhecidos na mídia americana, ainda que contando diferentes versões do que vemos aqui. A Gangue de Hollywood é formada por jovens bem nascidos em famílias de situação confortável, mas que para satisfazer sua paixão por celebridades e estrelato, resolveram assaltar casas de celebridades em busca de jóias, sapatos, bolsas e adereços variados de grifes milionárias. Ou seja, ao invés de ir ao shopping comprar o que queriam, o grupo invadia casas de personalidades como Paris Hilton, Rachel Bilson e Orlando Bloom para conseguir o que queriam. No filme a ideia parte de Rebecca (Katie Chang) que torna-se amiga de Marc (Israel Broussard) e juntos passam a procurar o paradeiro e endereço de celebridades na internet para ver se podem "visitar" a casa desses sem muito perigo. Exibindo o que conseguiram nas escolas e festas, eles conseguem novos membros para o grupo, como a aspirante a modelo Nicki (Emma Watson), a quase celebridade Chloe (Claire Julien) e Sam (Thaissa Farmiga). Sofia imprime um tom documental ao filme, que mostra a total ausência de limites desses adolescentes, que em momento algum demonstram arrependimento do que estão fazendo. Quando um deles é questionado sobre os motivos que podem ter motivado os assaltos, mostra-se a ideia do filme: a necessidade de pertencer a um mundo. Os objetos funcionariam como totens de uma celebridade e confeririam a quem os possui uma espécie de status? Pela lógica dos personagens, parece que sim. Há um verdadeiro fetiche entre eles pelos objetos de desejo que colecionam, tornando-os elementos quase mágicos. As fotos em redes sociais e a venda dos objetos roubados são outros aspectos que recebem destaque nas ações do bando. Apesar do tema interessante, a opção de Coppola pela linguagem documental faz com que situações e personagens fiquem um tanto soltos, o que pode incomodar os fãs de uma narrativa mais tradicional. Somente Marc e Nicki recebem um pouco mais de profundidade na história, além disso, são defendidos com graça, respectivamente por Israel Broussard e Emma Watson. Nem o envolvimento com drogas deixa Marc com jeito de caso perdido, Broussard mostra ter talento para encarnar personagens dúbios (a sexualidade incerta do personagem é um verdadeiro acerto nas mãos do jovem ator) e Emma Watson mostra-se bastante a vontade (e cômica) na pele da jovem deslumbrada que encarna - que vive como se participasse de um reality show. No fim das contas Bling Ring deixa o sabor de crônica sobre uma geração criada com permissividade e poucos limites. Ainda que o roteiro pudesse aprofundar mais a história, Sofia apresenta um olhar astuto sobre o culto às celebridades - que gera momentos quase surreais durante a trama.
Bling Ring - A Gangue de Hollywood (EUA / França / Reino Unido / Alemanha / Japão - 2013) de Sofia Coppola com Israel Broussard, Emma Watson, Leslie Mann e Katie Chang. ☻☻
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