Michima: primo do Gomez?
O francês Patrice Leconte tem seu número de fãs conquistados com filmes do porte de Um Homem Meio Esquisito (1989), O Marido da Cabelereira (1990) e o indicado ao Oscar Caindo no Ridículo (1996). Prestigiado, o diretor resolveu se aventurar pela animação em A Pequena Loja de Suicídios, baseado no livro de Jean Teulé. Cheio de humor negro, o filme é interessante em suas contradições e pode agradar para quem não exigir demais da obra. O filme conta a história do casal Tuvache, Mishima (Bernard Alane) e Lucrèce (Isabelle Spade) que cuidam de uma loja destinada a vender apetrechos para suicidas em potencial. Os produtos vão de forcas prontas, armas e venenos variados. Ajudam a cuidar da loja os filhos Marilyn (Isabelle Giami) e Vincent (Laurence Gendron) que são um tanto deprimidos pelo ambiente mórbido em que vivem. Embora Marilyn pense em seguir o mesmo caminhos dos clientes, seus pais sempre lhe tiram a ideia da cabeça, já que ela precisará conduzir os negócios da família no futuro. As coisas começam a sair dos tilhos quando Lucrèce dá a luz ao terceiro filho do casal, o alegre Alan (Kacey Mottet Klein), que incomoda-se com os negócios da família e passa a sabotar os produtos dos Tuvache. Alan ainda revela algumas regras obscuras da família, como sufocar a alegria e não desejar bom dia aos clientes (vai que eles acreditam e desistem de fazer compras na loja?). A ambientação cinzenta da cidade apresentado no filme (ainda que a loja seja multicolorida) e o traço sisudo dos personagens revela, em contraste com Alan que o filme pretende ser uma espécie de manifesto contra o pessimismo. A Pequena Loja de Suicídios tem algumas ideias bem sacadas como o alto valor dos produtos (afinal, se tudo der certo, eles, os clientes não precisarão mais de dinheiro), a clientela sempre rareando (já que consome e morre) e os personagens cheios de referência pop (Michima remete diretamente ao Gomez da família Adams, Marilyn parece a versão crescida a Angélica do Rugrats). No entanto, tem alguns problemas, aos poucos o roteiro revela não ter tanto o que contar, assim, exagera nas músicas desanimadas. É engraçado como as produção reza fora da cartilha da fofura Disney, mas rende-se ao uso de canções que nem sempre acrescentam à narrativa. Tirando a primeira, onde os personagens apresentam a loja, as outras canções não conseguem ser divertidas, emocionantes ou originais como deveriam. As sonoridade das músicas é clássica demais, criando um contraponto desajeitado com a narrativa politicamente incorreta. Outo problema é o último ato, simplista demais, onde todos os problemas se resolvem como num passe de mágica. Leconte mostra ter um olhar mais atento quando faz filmes com personagens de carne e osso, já que não são poucos os momentos em que o filme se excede por caminhos que não alcançam seus objetivos (como por exemplo Alan desenvolvendo o hábito de fumar sem aproveitamento algum para a história). No fim das contas, a obra daria uma excelente animação nas mãos de Tim Burton, nas mãos do cineasta francês, o filme resulta apenas um esboço do que seu início prometia.
A Pequena Loja de Suicídios (Les Magasin des Suicides/França-2012) de Patrice Leconte com Bernard Alane, Isabelle Spade e Isabelle Giami. ☻☻
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