Padrinhos e noivos: Hathaway em atuação de gente grande.
Anne Hathaway era uma dessas atrizes que estreiam às pencas em produções da Disney, em O Diário da Princesa (2001) demonstrou mais do que eficiência numa história infantil onde dividia a cena com o ícone Julie Andrews. Mas Anne cresceu e demonstrava que tinha condições de ser uma atriz dramática de grandes recursos, para isso ficou em anonimato enquanto enfrentava os testes para ser a esposa traída de Jack Twist (Jake Gyllenhall) em Brokeback Mountain (2005) de Ang Lee. No seu primeiro papel sério a moça já demonstrava que era capaz de fazer bonito em um papel mais denso do que as comédias amenas que lhe aguardavam. Se em O Diabo Veste Prada (2006) ela não precisava fazer muito mais do que tentar não ser esmagada por Meryl Streep, o passo seguinte de sua carreira foi mais do que coerente ao topar ser a protagonista auto-centrada de O Casamento de Rachel, filme que colocou Johnatan Demme (de O Silêncio dos Inocentes/1991 e Filadélfia/1993) novamente em foco após anos fazendo refilmagens por encomenda dos estúdios. Desde que o O Casamento de Rachel foi exibido em Veneza a crítica já celebrava a atuação de Anne como uma garota que dá um tempo em sua reabilitação para ir ao casamento da irmã, Rachel. Kym (Hathaway, indicada a todos os prêmios pelo papel) é uma personagem pouco simpática, menos pelo seu problema com a bebida, mas por não perceber que as pessoas ao seu lado também possuem problemas - principalmente relacionadas a um acidente provocado por ela e que deixou a família numa lacuna permanente. Por essa situação Kym acaba sendo a personificação da ferida que nunca cicatriza numa família que tenta manter o equilíbrio. Kym ainda é o total oposto de sua irmã, Rachel (Rosemarie Dewitt, em ótima atuação) que apesar de ser educada e gentil, sabe exatamente quais os botões apertar para fazer a imrã perceber que ao contrário do que pensa o mundo não gira em torno dela - especialmente no dia em que é mera coadjuvante de uma festa. Hathaway tem uma atuação excepcional, que consegue transformar sua personagem em alguém de carne e osso tentanto se equilibrar entre qualidades e defeitos numa existência onde cada dia tem sua parcela de dor. Colabora muito para esta dissecação da personagem a proposta narrativa de Demme, que conta a história como se fosse um documentário sobre o casamento a se realizar (nisso até os improvisos foram aproveitados, como a cena em que Kym reclama da música ambiente). Após projetos onde sua assinatura ficou ofuscada pela pressão dos estúdios, Demme quis relaxar e beber na fonte dos filmes do cinema independente americano e até do manifesto dinamarquês Dogma95. O resultado é de um frescor ímpar por nos inserir nos meandros emocionais da cerimônia que se anuncia (desde o chato ensaio dos discursos à festa em contraste aos sentimentos da protagonista). Demme mostra-se em plena forma e arranca atuações competentes de todo o elenco (como Mather Zickel na pele do pretendente simpático de Rachel, a sumida Debra Winger como a mãe divorciada de aparente indiferença e o pai vivido por Bill Irwin que tenta pacientemente juntar os cacos desta família). Demme ainda consegue orquestrar uma festa de casamento multicultural com japonesa sambando e citações de Neil Young, O Casamento de Rachel é a festa que marca seu retorno em grande estilo.
O Casamento de Rachel (Rachel getting Married/EUA-2008) de Johnatan Demme com Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Bill Irwin, Mather Zickel e Debra Winger ☻☻☻☻
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