O insuportábel Kyle e o pai: comédia pessimista.
Filmes sobre grandes mentiras podem ser muito bons se o roteirista não se achar mais esperto que os personagens e conseguir levar a farsa até as últimas consequências. Em O Melhor Pai do Mundo o diretor e roteirista Bobcat Goldthwait esbanja boas ideias, mas também subestima a inteligência de seu articulado protagonista. Parece um problema pequeno, mas ele acaba comprometendo a composição de Lance (Robin Williams), um bom sujeito capaz de criar uma grande farsa sobre a morte de seu filho, mas tolo o suficiente para não perceber que o garoto era o adolescente mais insuportável que já apareceu numa tela de cinema e que a mulher que ama é uma pilantra. Talvez Lance finja não perceber as coisas que o incomoda porque alguns fatos quando são falados incomodam mais ainda, mas até quando essa sua acomodação artificial irá funcionar? Lance é um professor que deve se contentar com suas aulas de poesia com poucos alunos medíocres, além disso, escreve romances que nunca são publicados e precisa lidar com Kyle, o filho adolescente que só pensa em pornografia. Durante o filme Lance não consegue estabelecer um diálogo com o herdeiro, ele apenas fala, mas o garoto não está nem aí para o que ele diz. Quando os dois parecem estabelecer algum vínculo, uma das taras do jovem acaba causando um suicídio involuntário. Desesperado, Lance modifica a cena da morte para que seja percebido como um caso típico de adolescente suicida incompreendido. Lance escreve uma carta de despedida e já estaria satisfeito se as pessoas não descobrissem como o garoto morreu de verdade. O problema é que as poucas palavras presentes na carta tornam Kyle numa espécie de ícone da escola. Os colegas que antes o ignoravam o percebem como uma espécie de herói, capaz de inspirá-los a mudar o rumo de suas vidas. Os professores se surpreendem como um menino tão desagradável podia ter uma alma tão sensível e profunda e Lance começa a alimentar essas impressões alheias, numa mentira que cresce desordenadamente como uma grande bolha - com direito à publicação do diário de Kyle (escrito pelo próprio Lance), entrevistas e aparições em programas de TV. Apesar do humor negro, Goldthwait parece fazer questão de deixar a vida de seu protagonista bastante amarga, especialmente quando temos que aturar a oportunista namorada de Lance que não convence durante o andamento da história (a culpa nem é da atriz Alexie Gilmore, é que o personagem está sobrando desde a sua concepção), esse é um aspecto pequeno, mas que incomoda. Se tivesse os personagens coadjuvantes mais lapidados o filme poderia render muito mais (em determinados momentos todos parecem alienados por uma espécie de hipsnotismo coletivo, o que artificializa as questões que o diretor parece querer aprofundar). O filme recebeu alguma atenção da crítica por ter sido produzido por Richard Kelly (do culturado Donnie Darko/2001), mas foi um grande fracasso nas bilheterias - o que pode ser resultado de sua visão pessimista sobre a humanidade. No caminho de Lance parece se salvar apenas a vizinha fã de zumbis e o melhor amigo de Kyle, o carente emocional Andrew (Evan Martin), o resto é só um bando de aproveitadores. Acho que essa visão um tanto unidimensional dos personagens é o que engessa as boas ideias do filme.
O Melhor Pai do Mundo (World's Greatest Dad/EUA-2009) de Bobcat Goldthwait com Robin Williams, Daryl Sabara, Alexie Gimore, Evan Martin e Henry Simons. ☻☻☻
O Melhor Pai do Mundo (World's Greatest Dad/EUA-2009) de Bobcat Goldthwait com Robin Williams, Daryl Sabara, Alexie Gimore, Evan Martin e Henry Simons. ☻☻☻
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