Rebecca e Aran: casal encantador.
Acho que desde Cisne Negro (2011) ficou bem claro no imaginário pop o quanto a vida de um bailarino é desgastante, especialmente por vivenciar o grande paradoxo de toda a leveza apresentadas nos palcos ser resultado dos treinos exaustivos movidos a sangue, suor e lágrimas. Talvez por isso um documentário simples como Primeira Posição seja tão gostoso de assistir. O filme de Bess Kargman conta, sem firulas, a história de um grupo de jovens (de 9 a 19 anos) de diferentes localidades que passam pela seleção para o Youth America Grand Prix um evento anual que é conhecido como a maior competição de jovens bailarinos do mundo. Além da projeção que suas carreiras recebem com o evento, muitos já conseguem bolsas para escolas renomadas e até contratos com companhias de prestígio. Kargman sabe que só as histórias presentes em seu filme já garantem o interesse da plateia e por isso mesmo, seu filme é um rico recorte de um universo bastante particular. Através do filme conhecemos a história, o empenho e a dedicação desse grupo de pessoas reais. Assim, fica difícil não torcer pelo casal de amigos Aran Bell e a israelense Rebecca, pequenos que encaram o balé com a seriedade de adultos em miniatura. Assim como os irmãos Miko e Jules Fogarty, enquanto a primeira é um prodígio, o segundo vê o balé apenas como uma diversão. Conhecemos ainda a história de Michaela, que além de todas os desafios que o reconhecimento de sua arte exige, ainda tem que lidar com variados preconceitos gerados pelo fato de ser negra, adotada, nascida em Serra Leoa e com vitiligo. Outro que também vê no Grand Prix uma espécie de salvação é Joan Sebastian Zamora, originário de um país da América do Sul e que pretende ajudar a família com a projeção que o balé pode lhe dar. Além desses personagens, existem outros para os quais a câmera de Kargman se volta durante a sessão, num universo bastante vasto de pessoas. Questões como alimentação, a deformidade causada pelas sapatilhas, lesões, a relação com pais, treinadores e o alto custo para se tornar um bailarino reconhecido sempre aparecem durante a sessão, mas sem o tom melodramático que esses temas podem gerar. É encantador como toda a tensão dos bastidores parece se dissolver quando os personagens entram no palco. Há quem diga que o filme parece um Reality Show, mas faz tempo que já considero que existe uma grande semelhança entre os Reality Shows e os documentários e, curiosamente, enquanto um gênero costuma ser massacrado pelos intelectuais de plantão, o segundo é exaltado enquanto registro cultural. Primeira Posição consegue ser ainda mais emocionante, quando em seu desfecho nos faz desejar que todos aqueles prodígios consigam seu lugar. Nos faz pensar como o mundo só será um lugar melhor quando todos tiverem o seu espaço, sem que seja preciso competir para conseguí-lo ou valorizar apenas a história dos vencedores.
Primeira Posição (First Position/EUA-2011) de Bess Kargman com Miko Fogarty, Aran Bell, Rebecca Houseknecht, Michaela DePrince, Joan Sebastain Zamora e Jules Fogaerty. ☻☻☻☻
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