Allen: guerrilheiro barba ruiva postiça.
Agora que Woody Allen está em voga com o lançamento elogiado de Blue Jasmine, fica ainda mais interessante assistir um de seus primeiros filmes. A comédia Bananas é um dos filmes da época em que Woody Allen se preocupava apenas em fazer rir, não importa se era com humor físico, tons surrealistas, diálogos bem elaborados ou situações sem sentido, o importante era ouvir a plateia gargalhar. Muito antes de todo esse revival da comédia stand up, o judeu ruivo de Nova York já fazia esse tipo de graça antes de ser descoberto pelo cinema, faltava-lhe apenas convencer Hollywood de que seu humor funcionava na telona. Se O que Há Tigresa? (1966) não agradou o diretor e Um Assaltante Bem Trapalhão (1969) mostrava sua intenção de se comunicar com um público mais amplo, Bananas (1971) selava de vez o seu humor no cinema. Bananas tem uma história que beira o absurdo - e por isso mesmo é bastante divertida. Só o início ácido em que os jornalistas narram o golpe militar em um pequeno país da América do Sul como se estivessem narrando uma partida esportiva já valeria o filme. Mas depois dessa sandice conhecemos o cobaia de produtos Fielding Melish (Allen), que apesar de toda a aparência de intelectual é um dos sujeitos mais atrapalhados que já apareceram num filme do diretor. Sua vida muda quando a ativista Nancy (Louise Lasser, uma das primeiras musas do diretor e que foi até casada com ele na época) bate à sua porta coletando assinaturas para apoiar a população de San Marcos, o tal país da América Latina que aparecia no início. Logo as diferenças entre o pacato Fielding e Nancy começam a gastar a relação. É depois que os dois terminam que ele vai parar em San Marcos e se vê entre uma conspiração militar para culpar os guerrilheiros de tê-lo matado. Esse incidente diplomático serviria para colocar a imprensa mundial contra a guerrilha do país, mas acaba colocando Fielding em contato com os próprios guerrilheiros que lhes salvam a vida. Não irá demorar muito para que o desastrado sujeito se torne um ícone da resistência política. Debaixo de tanto besteirol, Allen consegue tecer algumas provocações interessantes sobre política (a cena em que o líder da guerrilha abandona o discurso democrático para se tornar um ditador para benefício da massa "ignorante" é genial de tão simplório), além disso existem as alfinetadas sobre a relação do Tio Sam com os outros países (afinal no discurso em sua terra natal, Fielding precisa relatar tudo o que San Marcos tem a oferecer ao império americano - pouco além de mulheres, doenças e... bananas, claro!), mas claro que o diretor não perderia seu viés irônico sobre o amor quando reencontra Nancy (que cai de amores pela nova persona de seu ex-namorado - e não vou nem mencionar a barba fajuta que usa para criar o estereótipo comunista). É interessante como o filme me fez lembrar de Zelig (1983) pela forma como um personagem se torna um figurante da história quase sem querer. Bananas investe num tipo de humor que Allen não ousaria fazer novamente com medo ser considerado ridículo, por isso mesmo é uma obra bastante querida pelos fãs.
Bananas (EUA-1971) de Woody Allen com Woody Allen, Louise Lasser, Charlotte Rae, Jacobo Morales e David Ortiz. ☻☻☻
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