Ruffalo, Kikuchi e Adrien: perdendo a noção entre os golpes e a vida real.
Eu admito, foi preconceito o que me fez demorar tanto para ver esse segundo filme de Ryan Johnson. Celebrado por sua estreia em A Ponta de Um Crime (2005) - um noir moderno ambientado numa escola americana - Johnson demorou três anos para realizar seu segundo longa metragem. A comédia Vigaristas é bem diferente do seu filme anterior - e o elenco com dois ganhadores de Oscar (Adrien Brody e Rachel Weisz) e uma indicada à estatueta (Rinko Kikuchi de Babel/2006 que gasta mais o tempo em produções orientais) mostram que o cineasta ganhou prestígio em Hollywood. Ainda que exista violência, golpes e reviravoltas o filme é em sua essência uma comédia romântica, ainda que pouco convencional. O início chega a lembrar as obras de Wes Anderson quando narra a infância conturbada dos irmãos Bloom - órfãos criados pulando de lar em lar (num total de 38 famílias adotivas). O filme não perde tempo com muitos detalhes, só deixa claro que desde pequenos a arte do trambique corria na veia dos manos. Crescidos, Stephen (Mark Ruffallo) e Bloom Jr. (Adrien Brody) tornaram seus golpes mais elaborados, se tornando profissionais no ramo, ao lado da silenciosa comparsa Bang Bang (Kikuchi, numa participação pequena, charmosa e divertida). Tudo é motivo de piadas espertas no roteiro, o interesse constante de Bloom pelos seus alvos do sexo feminino, o passado misterioso de Bang Bang e os outros trambiqueiros esquisitos que vão aparecendo pelo caminho. O roteiro gira em torno do golpe que armam para a milionária excêntrica Penelope (Rachel Weisz). Vivendo isolada numa mansão, Penelope ocupa seu tempo com inúmeros hobbys (de fotografia, passando por origami até malabarismo com serras elétricas) quando na verdade deveria aprender a dirigir seu carrão. Como era de se esperar, Bloom se apaixona por ela e a recíproca é verdadeira. Quando você pensa que o filme vai seguir o caminho de tantos outros do gênero, o roteiro surpreende ao deixar Penelope animada com a possibilidade de se tornar uma contrabandista junto com o trio. Aos poucos, a personagem se mostra mais excêntrica do que deveria, instigando o hesitante Bloom a continuar a viver aventuras na contravenção. No decorrer da história, o filme traz várias reviravoltas e o espectador, assim como os personagens, perdem a noção do que é golpe e o que é real. Aqui, Johnson deixa evidente que sabe muito bem escolher os atores ideais para seus filmes, até porque, gostando de assinar suas tramas elaboradas, ele parece ter o dom de saber quem é capaz de tornar seus personagens mais interessantes do que possam parecer. Assim, todos tem seus bons momentos (apesar de Weisz não me convencer muito como ricaça ingênua, já que a proximidade dos quarenta já lhe torna um tanto inadequada para o papel), gostei muito de Adrien Brody (ainda não entendo porque um ator tão talentoso é tão pouco aproveitado em Hollywood, me recuso a acreditar que é por causa do nariz!) que exala um bom mocismo insuspeito em cada cena. O filme, pouco celebrado em seu lançamento (custou cerca de 20 milhões e arrecadou pouco mais de 3 milhões nos EUA), Vigaristas pode ser lembrado futuramente como um dos fracassos mais injustos do século XXI. O ritmo nervosinho e as piadas que parecem saídas de um cartoon dão ao filme um estilo incomum (que alguns podem achar bobo) e garante a diversão de quem está cansado de comédias de baixaria. Depois da bilheteria problemática o diretor deixou a comédia e fez sucesso com o recente Looper (2012). Desculpe pelo preconceito de outrora, Rian!
Vigaristas (The Brothers Bloom/EUA-2008) de Rian Johnson com Adrien Brody, Mark Ruffallo, Rachel Weisz, Rinko Kikuchi, Robbie Coltrane, Maximilian Schell, Max Records e Noah Segan. ☻☻☻
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