A agente do FBI e Barclay (?): sobre a arte de enganar-se.
Acho interessante como muitas pessoas ainda têm preconceito com documentários, alguns chegam a perguntar "é documentário ou é filme de verdade"? Como assim? O Documentário é um gênero como qualquer outro, ou seja, para ser bom, depende apenas da qualidade com que é realizado. Se você curte documentários já deve ter ouvido falar desse elogiado O Impostor, se nunca ouviu falar, acredite, você poderá gostar ainda mais. A história do filme é tão fantástica e absurda que durante todo o tempo eu imaginei que fosse tudo uma grande armação do diretor Bart Layton, uma espécie de thriller realizado da mesma forma como Sacha Baron Coen fez Borat (2006). Se é verdade ou não, vou deixar você descobrir no tempo que preferir, mas posso dizer que Layton faz um dos melhores documentários dos últimos anos a partir do desaparecimento de um garoto de 16 anos no Texas. Após três anos procurando informações sobre o menino, a família recebe uma ligação dizendo que ele foi encontrado e, a partir daí, o filme se torna uma grande surpresa. A partir de uma ligação anônima conhecemos um homem que admite gostar de assumir a identidade de outras pessoas. Disfarçado como um adolescente, ele é levado para um abrigo e para sair da lá entra em contato com autoridades, não demora muito para que ele se passe por Nicholas Barclay, desaparecido aos 16 anos. Detalhe: o homem está na Espanha e não possui nada em comum com o menino. Preso em sua própria farsa, ele entrará em contato com a família do menino e, miraculosamente, será aceito como o verdadeiro Nicholas Barclay. Conforme a trama avança, somos imersos num jogo de informações que nunca sabemos se são verdadeiras ou não, as histórias do impostor envolvem tráfico de crianças, líquidos que modificam a cor dos olhos, abusos variados entre outras coisas. São tantas informações, tantos dados que até o FBI tinha dúvidas sobre o que ele dizia. No entanto, é o acolhimento da família que afasta qualquer suspeita sobre a identidade do impostor. Mas afinal de contas, quem é o Impostor? Por que a família o aceitou com tanta devoção? Essas são algumas questões que prendem a plateia até o final. Layton faz um filme genial por subverter nossa ideia do que se trata o filme, logo de início, deixa claro que estamos diante de um farsante, para depois mostrar um mecanismo muito mais complexo: um jogo entre verdade e mentira. Impressões são construídas, destruídas, reconstruídas e desconstruídas diante das entrevistas da família Barclay e do impostor, numa edição brilhante que funde cenas de arquivo com outras utilizando atores, o que torna o filme numa junção perfeita de imagens e sons. Os pequenos trechos onde examinamos as impressões dos envolvidos no caso podem ser mais reveladores do que os diálogos e você não precisa sentir-se estranho se perceber um arrepio quando a narrativa dá uma guinada surpreendente perto do final. O Impostor é uma obra magnífica por revelar bastante sobre a complexidade dos laços humanos, especialmente como isso influencia a vontade de acreditar em verdades ou mentiras. A habilidade com que o diretor conta sua história lhe valeu o BAFTA de diretor revelação e uma indicação ao prêmio de melhor documentário. Simplesmente, um trabalho excepcional que (infelizmente) não estreou em nossos cinemas.
O Impostor (The Imposter/Reino Unido - 2012) de Bart Layton com Frederic Bourdin, Adam O'Brien, Carey Gibson, Ken Appledorn e Anna Ruben. ☻☻☻☻☻
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