Gushenko e seu rival: sátira de época
Não sei se já comentei antes aqui no blog que a culpa de eu ser cinéfilo é por conta do meu pai que me levava ainda menino na Cinelândia quando (foi assim que o primeiro filme que assisti foi Peter Pan da Disney, depois ganhei o livro e você pode imaginar os efeitos disso na minha formação como ser humano). Hoje, quase não assisto filmes junto com meu pai. Faz mais de uma década que não vamos no cinema juntos (nem lembro da última vez) - mas a culpa desse jejum é minha porque não fui com ele e minha irmã ver Thor 2 (2013) num dia de folga. Todas essas confissões para dizer que, ver filmes com meu pai, ainda que seja em casa, é sempre interessante. Acho engraçado quando alguns artistas recebem rótulos com o padrão Manoel (nome do meu pai) que se repetem na minha cabeça. Meu pai por exemplo não é fã de Woody Allen, pelo contrário, o comentário destinado a todos os filmes do diretor quando assisto é "Você gosta mesmo desse baixinho?", ou então quando se aventura a assistir alguns minutos comigo é algo do tipo "Essa gente fala demais" (como aconteceu em Maridos e Esposas/1992). Todas essas voltas só para dizer que (posso afirmar com certeza) que o filme favorito do meu pai é A Última Noite de Boris Gushenko (1975), o que revela que no fundo meu pai é um daqueles que prefere a fase em que Allen era mais engraçado que intelectual. Ironicamente, Bóris Gushenko é um dos filmes de Allen que menos ouvi falar durante a minha vida, mas devo confessar que o filme é bastante engraçado e deve figurar entre as melhores comédias do diretor. A produção é uma sátira, já que tem um tom de chacota com várias referências que temos sobre a Rússia. Boris (Woody) é um garoto que nasce diferente dos seus irmãos (que se tornam soldados importantes na luta pelo país). Boris é mais pacato, desastrado e tem aqueles famosos óculos... Talvez por ser tão diferente, nunca é correspondido em sua paixão pela prima Sonja (Diane Keaton) que é apaixonada por um dos irmãos guerreiros dele. O problema é que Sonja prefere casar com um velho decrépito do que com Boris. Enquanto Boris vai para a guerra e faz várias trapalhadas, Sonja trai o esposo com todo mundo (menos com Boris). Existem referências a vários personagens que inspiraram Dostoievski e Nabokov em suas obras, além de situações que viram do avesso a ideia de um filme de época ambientado na Rússia. É tão absurdo que rende boas gargalhadas, especialmente quando Sonja recita filosofices como se estivesse comentando com a naturalidade a novela das oito. O que me decepciona um pouco é que assim como em Bananas (1971) e O Dorminhoco (1973), o diretor coloca seu protagonista na missão de destruir algum poderoso local. Tirando essa ideia fixa, o filme merece ser visto pelo tom surreal (inclusive a visita da morte vestida de branco) e a ideia de Quentin Tarantino pegou o liquidificador de Allen emprestado em seus últimos filmes. Vale lembrar, que o filme foi o primeiro que o cineasta dirigiu fora dos EUA (foi rodado na França e Hungria), feito que ele repetiu somente vinte anos depois.
A Última Noite de Boris Gushenko (Love and Death / EUA- 1975) com Woody Allen, Diane Keaton e Brian Coburn. ☻☻☻
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