segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

KLÁSSIQO: Interiores

Keaton, Kristin e Beth: quando Allen encontrou Bergman. 

Depois que ganhou o Oscar por Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Woody Allen vestiu literalmente o traje de cineasta sério. Se no cultuado filme estrelado por Diane Keaton ele já buscava um tom diferente em suas tramas, com a estatueta na mão, Woody Allen resolveu radicalizar e investir num drama pesadão. Interiores é considerado um marco em sua carreira, além de ser o momento em que sua inspiração no cinema de Ingmar Bergman estava mais evidente (alguns até consideram uma cópia deslavada do diretor sueco). É verdade que existe muita semelhança entre a obra de Allen e os filmes de Bergman (as mulheres, os silêncios, o tom pesaroso...), mas a Academia não reclamou e indicou o longa à cinco estatuetas (direção, roteiro original, cenografia e duas na categoria atriz coadjuvante). O filme acompanha os conflitos de três irmãs que precisam lidar com o divórcio dos pais, na verdade, as personagens precisam lidar com os dilemas sempre sufocados dentro do núcleo familiar. Joey (a ótima Mary Beth Hurt) é a irmã do meio, sincera demais, ela é a única que tenta fazer a mãe, Eve (Geraldine Page) perceber que a separação não é provisória. Eve é a típica mãe controladora, sempre dedicada à perfeição da decoração de interiores não se dá bem com o esposo de Joey, Mike (Sam Wateston) e prefere conversar com a filha primogênita e bem sucedida, Renata (Diane Keaton) que alimenta suas ilusões de reestruturar o casamento de seus progenitores. Completa o trio de irmãs a atriz Flyn (Kristin Griffith), cujo a carreira nunca decola - mas consegue manter uma distância segura dos problemas de sua família. É evidente que Allen pretende explorar o que há de mais psicológico na ideia da dissolução da família original das irmãs com a situação de suas próprias famílias, a relação com o sucesso, os filhos e o fracasso do esposo no caso de Renata, a sensação de inércia que Joey sente perante as irmãs artistas ampliada por uma gravidez inesperada e o distanciamento sempre proposital de Flyn às emoções da vida real (o uso de drogas ressalta ainda mais essa sensação). Allen constrói uma galeria de personagens ricos, cujo o ponto mais trivial é a relação de ciúme que as irmãs revelam quando estão juntas do pai (E.G Marshall) - especialmente quando ele lhes apresenta a namorada, Pearl (Maureen Stapleton) que revela-se bastante diferente da sisuda Eve. Apesar da história revelar elementos universais em seu andamento, acho que apesar de todo o silêncio, algumas cenas exageram nos pitis das personagens (os berros de Joey quando Pearl quebra um vaso, a discussão na igreja, Renata berrando com o esposo), revelando um exagero que não combina muito com a proposta do filme. Ainda assim, existem atuações memoráveis no filme, inclusive das veteranas Geraldine Page (que conseguiu aqui sua sexta indicação ao Oscar, no total de oito em toda a sua carreira) e Maureen Stapleton (que conseguiu a terceira, ganhando na quinta indicação por Reds/1981). Depois desse filme, Allen voltaria ao tom dramático outras vezes, mas em nenhuma delas tentou ser tão denso quanto aqui.

Interiores (Interiors/EUA-1978) de Woody Allen com Mary Beth Hurt, Diane Keaton, Kristin Griffith, Geraldine Page,  Maureen Stapleton e Sam Waterston. ☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário