O Equilibrista: caminhando entre as Torres Gêmeas.
Refilmar documentários em versões dramatizadas não chega a ser uma novidade (basta lembrar do filme Nos Tempos de Harvey Milk/1984 que depois ganhou sua versão estrelada por Sean Penn pelas mãos de Gus Van Sant em Milk/2008), no entanto, num mundo dominado por continuações, reboots e remakes, a prática tem se mostrado cada vez mais recorrente. Por isso mesmo, existem dados curiosos que tornam as versões recentes de Citizenfour (2014) e O Equilibrista (2008) ainda mais interessantes. Além de ambos terem levado para casa o Oscar de melhor documentário, ambos renderam filmes estrelados por Joseph Gordon Lewitt. O Equilibrista ganhou versão dirigida por Robert Zemeckis (A Travessia/2015) sobre a empreitada mais famosa do francês Phillipe Petit, que em sete de agosto de 1974 resolveu atravessar sob um arame o espaço que existia entre o World Trade Center. Dirigido por James Marsh, O Equilibrista torna-se superior ao filme de Zemeckis por criar um clima de suspense durante uma narrativa documental. Utilizando fotos de arquivo, entrevistas, vídeos e reconstituição, todo o planejamento de Petit torna-se uma história bastante atraente (especialmente pelo próprio contar suas peripécias com invejável animação). Marsh cria um filme ágil e bastante rico na intenção de transportar o espectador para dentro da ideia de seu personagem real. O resultado é ainda mais tenso que filme lançado no ano passado e ainda nos ajuda a conhecer melhor quem foram os cúmplices de Petit (que aqui ganham mais espaço dentro da aventura apresentada e, alguns, parecem saídos direto da ficção cinematográfica). Mesmo comparando os dois filmes, não deixa de ser interessante o apelo que a história de um sujeito que desafia as leis da física - e das autoridades - provoca nos produtores e na plateia.
Citizenfour: traindo o Tio Sam.
Esse aspecto não deixa de ser uma semelhança com Citizenfour, documentário dirigido por Laura Poitas e que serviu de base para Oliver Stone construir o seu recente Snowden, que já está em cartaz no Brasil. Citizenfour é basicamente uma entrevista com Edward Snowden a partir dos e-mails enviados para a documentarista (sob a identificação secreta que dá título ao filme). Snowden trabalhava para a NSA que prestava serviços à CIA e ficou incomodado com alguns procedimentos adotados pelo serviço de inteligência norte-americano após os atentados de 11 de setembro. O filme aprofunda as denúncias e discussões de Snowden perante Laura e os dois jornalistas que a acompanharam e traz revelações assustadoras sobre a vigilância acerca do cidadão comum (principalmente em sua vida online) e as consequências que isso pode gerar. As entrevistas foram realizadas antes que Snowden precisasse se exilar na Rússia, sob o risco de ser preso por traição ao governo americano e, provavelmente, executado. Ainda que narrativamente seja mais simples, afinal retrata os meandros de uma entrevista bombástica, Citizenfour resulta nervoso em suas denúncias e se alimenta da imagem inofensiva de um sujeito polêmico que teve sua vida arruinada por acreditar em fazer a coisa certa. Entre o documental e o dramatizado, os documentários possuem a vantagem de contar a história com antecedência, mas ainda que as refilmagens posteriores invistam em bons diretores e atores, além de incluir detalhes que ficaram de fora dos filmes lançados anteriormente, a base das narrativas são bastante semelhantes ao manter o tom de entrevista. Dificilmente quem assiste as narrativas contundentes de James Marsh e Laura Poitas sentirão o mesmo diante das novas versões com atores que chegaram ao cinema, mesmo que ambas contem com o carisma de Joseph Gordon Lewitt nos papéis principais.
O Equilibrista (Man on Wire / Reino Unido - EUA / 2008) de James Marsh com Philippe Petit, Annie Allix, David Forman, Alan Welner e Jean François Heckel. ☻☻☻☻
Citizenfour (EUA-Alemanha-Reino Unido/2014) de Laura Poitras com Edward Snowden, Glenn Greenwald, William Binney e Jacob Appelbaum. ☻☻☻☻
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