Rylance e Ruby: amigos na Terra de Gigantes.
Existe algo peculiarmente nostálgico em O Bom Gigante Amigo para a carreira de Steven Spielberg. Antes de se tornar um diretor oscarizado por filmes sérios de temáticas históricas, o cineasta ficou famoso por sua assinaturas em filmes de fantasia - tanto como diretor como produtor. De vez em quando ele volta ao gênero que o consagrou, mas várias vezes já foi sinalizado que do brilho de outrora pouca coisa resistiu à passagem do tempo. O Bom Gigante Amigo era para ser um retorno do diretor aos velhos tempos e não havia como deixar de ser: a trama é uma adaptação do livro homônimo de Roald Dahl, o elenco é esforçado, tem bom visual... mas ainda assim o filme não decola. Talvez o maior problema seja do roteiro de Melissa Mathison (do sucesso spielbergiano E.T./1982) que se enrola numa trama que demora uma trama que se perde no meio do caminho por não optar pelo caminho mais simples de contar uma aventura juvenil (um erro recorrente nos atuais filmes do gênero que gostam de incrementar tudo além da conta). Sophie (a promissora Ruby Barnhill) é uma órfã que foi sequestrada por um gigante solitário (Mark Rilance em ótima atuação por captura de movimentos) que costuma ser perseguido por outros gigantes maiores e mais agressivos que ele. Embora queira voltar para Londres, Sophie percebe que seu gigante amigo é cheio de boas intenções e está disposto a protegê-la e, conforme se aproximam cada vez mais, a menina irá querer fazer o mesmo por ele - e de quebra ajudar a salvar a humanidade do ataque dos gigantes canibais. Porém, enquanto se desenvolve, existe um desequilíbrio em O Bom Gigante Amigo, uma necessidade de misturar sonhos com política (na trama um menino sonha com o presidente dos EUA, Sophie se encontra com a rainha da Inglaterra e existe espaço até para os russos) e piadas sobre flatulência - e nem tudo se encaixa direito. Gosto da forma como BFG manipula os sonhos das pessoas, os efeitos especiais tem bons momentos (em outros são bem artificiais) e o tom de aventura funciona, assim como os momentos pueris que só os filmes fantásticos dos anos 1980 sabiam ter. Só que Spielberg não é mais aquele dos velhos tempos e precisa soar sério mesmo quando pensa em relaxar - e aí o filme se arrasta. Não sei se Roald Dahl estaria desapontado com o filme, mas tenho certeza que aprovaria a atuação do bamba Mark Rylance (Oscar de ator coadjuvante por ser a melhor coisa do último lona de Spielberg, Ponte dos Espiões/2015) que está encantador como o gigante bonzinho.
O Bom Gigante Amigo (The BFG / EUA - 2016) de Steven Spielberg com Ruby Barnhill, Mark Rylance, Jemaine Clement, Rebecca Hall, Penelope Wilton e Rafe Spall. ☻☻
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