Grant e Andie: desconstruindo a estrutura de uma comédia romântica.
Passado mais de vinte anos de seu lançamento, acredito que muita gente ainda guarda na memória o deleite que foi assistir Quatro Casamentos e Um Funeral, uma comédia britânica despretensiosa e de baixo orçamento que ficou entre Forrest Gump e Pulp Fiction no páreo de melhor filme no Oscar de 1995. O filme de Mike Newell fez história por colocar novamente a comédia britânica no mapa dos cinéfilos, afinal, fazia tempo que o cinema inglês era visto como sinônimo de filme de época. O que resiste ao tempo na trama escrita por Richard Curtis é o bom humor com que faz troça com o gênero ao qual pertence. Desde o primeiro casamento, sabemos que nosso protagonista é Charlie (Hugh Grant), que sempre acompanhado pelo seu grupo de fiéis amigos, percorre casórios tecendo comentários sobre os demais convidados. O principal fio da narrativa é a atração que se estabelece entre Charlie e a americana Claire (Andie McDowell) com quem ele se encontrará ao longo de todo o filme em circunstâncias diferentes. No entanto, esse romance em tom cômico evita cair nas armadilhas da maioria das comédias românticas. Os desencontros amorosos entre os dois vão para além das discussões bobas, términos e recomeços - que tornam o final feliz quase sempre pouco convincente. Aqui o que vemos são duas pessoas que se gostam, mas que sempre se perdem no meio do caminho. Aliás, essa parece ser também a história de Fiona (Kristin Scott Thomas), sempre próxima de Charlie mas incapaz de fazê-lo perceber o quanto está interessada por ele - e ainda existe a conhecida Cara de Pato (Anna Chancellor), mas essa eu nem conto para não estragar. O elenco é mais do que eficiente para lidar com os momentos engraçados da história (na verdade, uma espécie de coleção de gafes e situações constrangedoras que podem acontecer em qualquer festa), a trilha sonora pop também ajuda a entrar no clima de uma produção descontraída que se tornou um dos filmes referenciais dos anos 1990. No entanto, o mais interessante do filme ainda é como ele subverte algumas regras do gênero: a história é contada do ponto de vista de um homem (que é tímido mas, ainda assim, um conquistador vivido com saboroso desconforto por Grant), a mulher está longe de ser a mocinha ingênua (especialmente depois da enorme lista de amores que cita ao par romântico) e o casamento, que é o grande objetivo do final desse tipo de filme, está presente o tempo todo, menos no... bem se eu contar será um grande SPOILER! Talvez seja por essas características que o filme esteja entre os meus favoritos, ainda que pouca gente perceba o quanto ainda é engenhoso.
Quatro Casamentos e Um Funeral (Four Weddings anda a Funeral/Reino Unido - 1994) de Mike Newell com Hugh Grant, Andie McDowell, Kristin Scott Thomas, John Hannah, Simon Callow, James Fleet, Charlote Coleman e David Bower. ☻☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário